Numa lista que já ajudou a lançar o olhar de fundos e empresas para empreendedores como Linus Torvalds, criador do Linux, Sergey Brin, do Google, e Mark Zuckerberg, da Meta, ainda em seus primeiros passos na inovação, o MIT Innovators Under 35 tem dado mais atenção à América Latina. No ano passado, a lista global da MIT Technology Review ganhou um versão regional: dos 35 empreendedores promissores da América Latina com menos de 35 anos, cinco eram brasileiros. Agora, a instituição fez a primeira edição exclusivamente no Brasil, seguindo o corte etário.
O Pipeline teve acesso à lista, que será oficialmente divulgada no Rio Innovation Week, evento de inovação que acontece nesta quarta. Num recorte de setores que mais atraem o perfil de empreendedor social, a MIT Technology Review Brasil selecionou 18 destaques dos mercados de tecnologia, inteligência artificial, saúde, ESG, arte e negócios. A primeira etapa da triagem foi feita por meio de inscrição e indicações.
“Em função da relevância que o MIT tem, nosso objetivo principal com a lista é fomentar o processo de inovação das regiões. A academia passa a olhar para esses empreendedores, assim como os fundos, as startups, os governos”, diz André Miceli, CEO da MIT Technology Review no país. “No caso do Brasil, há ainda uma ambição de colocar no centro da discussão ainda mais empreendedores fora do eixo Rio-São Paulo nas próximas edições.”
O nome mais conhecido publicamente hoje na lista é Edu Lyra, o fundador da ONG Gerando Falcões, que ganhou notoriedade em sua atuação social na pandemia e segue engajamento empresas e milionários na meta de “transformar a favela em peça de museu”, como ele costuma definir.
A proposta da lista é jogar luz sobre mais histórias inovadoras e inspiradoras como a de Lyra e ainda pouco conhecidas, como a de Gabriel Marmentini, o catarinense fundou a Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (ACBG Brasil) depois que sua mãe perdeu a laringe (e, consequentemente, a voz) por conta da doença. A organização oferece atendimento em fonoaudiologia e musicalização, promove a ressocialização de pessoas acometidas por esse tipo de câncer e também tem forte atuação em advocacy para promover avanços regulatórios nas políticas públicas relacionadas.
“Comecei muito cedo a trabalhar com ONGs, fundações, cooperativas, sempre gostei da área. Em 2011, quando eu já estava na graduação, minha mãe precisou remover a laringe e perdeu a voz. Aquilo mexeu muito comigo”, conta Marmentini. “É um câncer bem mutilador, algumas pessoas se suicidam, perdem o emprego, o casamento, porque ninguém gosta de ver uma pessoa sem nariz, sem boca, é uma imagem muito marcante. A autoestima fica muito abalada.”
Formado em administração pública pela Udesc, ele é também cofundador do Politize. O projeto ganhou corpo depois das manifestações e protestos públicos de 2013 e hoje trabalha com a produção e difusão de conteúdo, por meio do site de notícias, formação de líderes e capacitação pedagógica de professores, via parcerias com o poder público de sete estados e do Distrito Federal. Hoje, são 50 profissionais envolvidos e outros 500 voluntários no país.
Há outros empreendedores atuando na área da saúde depois de experiências pessoais, caso de César Freitas Filho, que fundou a WeCancer ao lado de Lorenzo Cartolano, após ambos perderem as mães para o câncer. A startup faz gestão de saúde com foco nos desafios da jornada oncológica. Já o médico Pedro Santoro criou a Dr Care, healthtech que sistematiza a comunicação entre profissionais da saúde na troca de plantões, para melhorar o tratamento dos pacientes; e a advogada e atleta Carla Moussalli comanda LinkFit, que aplica inteligência artificial para monitorar e aliviar dores crônicas.
A lista tem outras cinco mulheres. A baiana Anna Luisa Beserra, de 25 anos, fundou a startup de impacto socioambiental SDW para Todos, ao lado da cearense Letícia Nunes. A sigla se refere a Sustainable Development and Water for All. A MIT destacou ainda Rachel Maranhao, cofundadora e CEO da greentech paulista MABE Bio, Carolina Kia Takada, cofundadora e CEO da Bud, software de gestão e liderança, e Luana Wandecy, fundadora e CEO da Blindog, que aplica tecnologia para o mercado pet – como uma coleira inteligente para cães cegos.
A artista-designer Iane Cabral, fundadora e CEO da Plasma e Setor W, comanda um laboratório para pesquisa e criação de “tecnologias vestíveis”, com ênfase em eletrônica costurável, computação criativa, impressão 3D e biomateriais. Já o artista plástico Rafael Filadelfio, fundador da Casa Vista, definida como a primeira instalação artística permanente disponível para hospedagem no AirBnb, e da Filadelfio, marca de roupas defensora do consumo consciente; enquanto Vítor Cunha, comanda e cofundou a Magroove, plataforma que ajuda músicos a monetizarem seu trabalho.
Um grupo empreendedores atua com foco no mercado corporativo, com soluções para empresas ou profissionais. Gabriel Polverelli cofundou a Estúdios Lumx, que coloca companhias na era do blockchain, com soluções de tokenização; Alexandre Messina é fundador da ZapGPT, que ajuda empresas no atendimento automatizado via WhatsApp; Paul Malicki, o ex-CMO da EasyTaxi que fundou a Flapper, conhecida como o Uber da aviação executiva; Pedro Freire fundou a Blue AI, que auxilia seguradoras e RHs a economizar em custos de sinistros com previsões de doenças crônicas e detecção de fraudes; e Lucas Lima, da ONG Projeto João de Barro, que promove cursos de capacitação profissional, ajudando na inserção no mercado de trabalho.
Fundador da Escola Conquer, Hendel Favarin Martines completa a lista brasileira. Depois de empreender vendendo um aplicativo para restaurantes de porta em porta e, anos mais tarde, assumir a expansão da Vindi — vendida para a Locaweb por R$ 300 milhões —, o empreendedor resolveu criar uma escola para ensinar o que aprendeu na prática. Aos 25 anos deu início à sua rede de educação voltada a softskills.
“A gente nasceu para ensinar oratória, negociação, inteligência emocional, habilidades que não se aprendem no sistema de ensino tradicional”, explica Favarin. “Na pandemia, a gente quase quebrou, mas seguimos uma das máximas que ensinamos: construir a relação de confiança. Liberamos nosso produto mais lucrativo gratuitamente para apoiar pessoas que estavam tentando se reposicionar no mercado naquela época. Assim, saltamos de 35 mil alunos para meio milhão de inscritos em 80 países. A gente virou uma sensação.”
Depois disso, a rede de ensino atraiu Flavio Augusto como sócio. O empresário dono do grupo Wiser era, curiosamente, um dos mentores que Favarin pendurou na parede da primeira sede da empresa, no “mural dos heróis” – onde constava ainda Steve Jobs e outros gurus do empreendedorismo e da inovação. Em 2022, a Conquer faturou R$ 130 milhões.
Seja na mentoria de liderança, na saúde, no impacto social, há muito espaço para inovar, na opinião dos jovens talentos. “Os empreendedores precisam se unir mais para evitar o overlapping: tem muita gente fazendo a mesma coisa. Muitas vezes por ego, não por impacto. Falta uma visão sistêmica”, diz Marmentini. “No Brasil, tem problema de sobra, dá para escolher. Quem quiser empreender, comece amanhã. Eu me coloco à disposição pra ajudar.”
A MIT Technology Review é a marca de mídia independente e sem fins lucrativos da universidade americana MIT. No Brasil, a publicação é uma parceria com o TEC Institute.
Fonte: Pipeline