Três em cada quatro Corporate Venture Capital (CVC) no Brasil foram criados nos últimos quatro anos. Serviços financeiros, incluindo fintechs, e tecnologia da informação despontam como setores que recebem os maiores investimentos nesta modalidade. As conclusões estão na terceira edição da pesquisa sobre CVC feita ABVCAP em parceria com a ApexBrasil e Global Corporate Venturing, com o apoio do EloGroup, Fundação Dom Cabral e Wayra divulgada na quinta-feira, 25.
O estudo teve respostas de 39 empresas de diferentes portes e segmentos que têm unidades de CVC. Apesar de um segmento novo, que ainda está sendo testado, já é possível perceber mudanças nas prioridades dos CVCs entre um ano e outro. Em 2022, na última pesquisa, 29% responderam que o apoio a negócios já existentes era uma prioridade alta. Agora, nos dados de 2023, este percentual saltou para 43%.
A pesquisa também mostra que 91% dos Corporate Venture Capital que atuam no Brasil tem sede no próprio país. Já quando se analisa a sede da empresa que originou o CVC: 81% ficam no Brasil, 11% na Europa, 5% nos Estados Unidos e 2% na Ásia.
“Se olharmos para o tamanho do Brasil e para a cultura empreendedora que temos, é muito possível projetarmos um cenário de crescimento dos CVCs no nosso país, principalmente à medida em que esta leva maior de iniciativas, criada entre 2020 e 2023, começar a ter os primeiros resultados. Assim como no Venture Capital tradicional, o CVC não vai dar retornos instantâneos, sejam de soluções e tecnologia para empresas, sejam financeiros. A maturação é necessária e faz parte do processo”, comenta Priscila Rodrigues, presidente da ABVCAP.
Principais setores da economia. Além de serviços financeiros (57,1%) e TI (51,4%), os setores de energia (42,8%), transporte e mobilidade (37,1%), agtechs e foodtechs (37,1%), indústria (31,4%) e plataformas para o varejo (28,5% também aparecem com relevância entre os investimentos feitos pelos CVCs. Esses dados estão em linha com o ramo de atividade das empresas que originaram os CVCs, a maioria de serviços financeiros, indústria, energia e TI.
A nova pesquisa também mostra que 53% dos CVCs têm fundos de até R$ 250 milhões, enquanto 34% ficam na faixa dos R$ 251 milhões a R$ 500 milhões. Os dados evidenciam que 82% reservam parte do fundo para follow-ons e que 100% olham para a fase early stage e 76% para seed e pre-revenue. A pesquisa não verificou grande interesse dos CVCs em estágios de investimentos superiores, como Late Stage e PE/Growth Equity.
De acordo com a Gerente de Investimentos da ApexBrasil, Helena Bonna Brandão, esse ecossistema segue evoluindo desde 2015, quando a agência começou a disseminar o modelo de CVC e atrair players internacionais para o mercado. “Os primeiros fundos de maior vulto, começaram a se tornar uma realidade no país. Além disso, chama a atenção o fato de que parcela considerável dos CVCs já adota a prática de reservar recursos para aportes subsequentes. Todavia, quase 20% ainda não adotam a boa prática, o que mostra espaço para aprimoramento. De uma forma geral, a agência observa que a atuação e presença dos CVCs tem sido fundamental para viabilizar liquidez de mercado nos estágios mais iniciais. Ao longo dos últimos anos, globalmente, os CVCs respondem por cerca de 14% das transações (deals) anuais na indústria de venture capital. Aqui no Brasil, em estudo adicional do GCV com dados próprios e do Pitchbook em 2023, os Corporates foram responsáveis por 36% dos deals, mostrando a relevância do segmento emergente no país para o desenvolvimento do ecossistema de inovação e apoio aos empreendedores”, comenta Helena.
“O Brasil já tem um dos maiores ecossistemas de Corporate Venture Capital do mundo – e o crescimento está ocorrendo de maneira rápida. Agora, soma-se o número de novas unidades de CVC lançadas em 2023 e pensamos que este crescimento tem potencial para ajudar o país a aumentar a velocidade do seu crescimento e ter mais produtividade. Vejo que as possibilidades são enormes. Isso se deve muito, também, ao trabalho da ABVCAP e da ApexBrasil, em particular, que já adotam muitas das melhores práticas globais e por isso o Brasil está mais avançado que muitos países no tema”, comenta James Mawson, CEO do Global Corporate Venturing.
Os dados também mostram que 67% dos CVCs levam, em média, de um a três meses para fechar uma negociação e que 90% pretendem fazer até seis investimentos a cada ano. Em termos de veículo de investimento, FIP (Fundo de Investimento em Participações) é preponderante em 63% dos CVCs.
“Esses números são uma informação muito valiosa por servir como referência para que corporações possam avaliar a maturidade das suas práticas de CVC frente ao mercado”, diz Jaime Frenkel, diretor-executivo da EloGroup. “Por exemplo, empresas cujo processo de avaliação é demasiadamente lento em relação às demais arriscam deixar de participar de deals relevantes e correm o risco de sofrer com seleção adversa. Por trazer à tona esse tipo de informação, a pesquisa realizada pela ABVCAP contribui significativamente para o amadurecimento do mercado de CVC no Brasil e é por isso que é uma grande satisfação para a EloGroup estar, por mais um ano, participando da consolidação e análise dos resultados dessa pesquisa.”
Novo comitê de CVC
Durante o evento de apresentação da nova pesquisa, a ABVCAP também apresentou o novo Comitê de CVC da Associação. A coordenação passa a ser de Artur Faria, CEO da Oxygea Ventures. Artur acumula 18 anos de trajetória profissional, onde liderou as áreas de Planejamento Estratégico, Inteligência de Mercado e Fusões e Aquisições. Empreendedor entusiasta da energia renovável, Artur atualmente está à frente do maior investimento comprometido em Corporate Venture Capital e Venture Building da América Latina (US$150 milhões) dedicado a impulsionar negócios com foco em sustentabilidade e transformação digital na indústria.
“É um grande privilégio assumir a posição de coordenador do novo Comitê de CVC da ABVCAP e poder contribuir com o fomento de investimentos em inovação no país, apoiando no desenvolvimento de mecanismos que impulsionam a inovação, crescimento sustentável e integração de players com foco em promover um relacionamentos duradouros entre stakeholders de todo o ecossistema de investimentos”, destaca Faria.