O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nessa terça-feira (7) que o cenário internacional “cria um pouco de neblina para enxergar os desdobramentos” da economia brasileira.
“As comunicações de autoridades monetárias estão ‘data dependent’, ou dependente de dados”, disse o diretor, em evento da Sescon-SP, logo após a publicação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu os juros para 12,25% ao ano.
Movimento “bastante corajoso”
Galípolo afirmou que o colegiado já foi “bastante corajoso” em colocar no plural a indicação de que continuará cortando a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual “nas próximas reuniões”, e que avançar na sinalização “pode ser bastante danoso”.
“A gente acha que já foi bastante corajoso em fazer guidance [sinalização futura] e escrever ‘próximas reuniões’ [no plural]. Avançar mais no forward guidance pode ser bastante danoso para a autoridade monetária. Dado o nível de incerteza, eu sigo um pouco como um navegador do século XVI, que enxerga uma milha e meia à frente”, disse.
Galípolo avaliou que as expectativas se acentuaram nas duas direções: na dinâmica mais benigna doméstica e no cenário de maior adversidade internacional. Mesmo assim, segundo ele, o Brasil reúne características que pode fazer com que o país que se destaque em relação aos seus pares.
“Câmbio e petróleo vêm se comportando relativamente bem, com alterações modestas (…) Precisamos analisar com calma como as variáveis vão se comportar”, disse.
Copom “foi feliz”
Para ele, o Copom “foi feliz” em determinar um ritmo de corte de juros que permite “ajustar o nível de contração e ter tempo para analisar as variáveis”.
Para ele, do ponto de vista doméstico o cenário é “bastante benigno”. “Serviços e núcleos vêm apresentando dinâmica benigna”, reiterou.
Cenário adverso para emergentes
Galípolo disse que um “indicativo importante” para determinar o impacto do cenário internacional no Brasil é que na semana passada saiu dado do mercado dos Estados Unidos mais fraco. “Com a possibilidade de os EUA não precisarem ficar com a política monetária apertada por tanto tempo, a gente teve a melhor semana da bolsa”, lembrou.
“Isso mostra a predominância do cenário internacional para explicar a dinâmica do que vem acontecendo no Brasil. É um cenário mais adverso para países emergentes”, complementou.
Taxa de câmbio
Ele pontuou que a ata do Copom trouxe o debate do colegiado sobre os canais de transmissão do ambiente externo para a economia doméstica e enfatizou que o principal é a taxa de câmbio.
“Muitos apostariam [com a guerra no Oriente Médio] que o real estivesse mais desvalorizado que está hoje e petróleo mais caro. As correlações entre variáveis vêm surpreendendo”, ponderou.
“Seria difícil prever uma desinflação como a gente vê no Brasil com mercado de trabalho resiliente. A abertura das treasures levaria à hipótese de real mais desvalorizado [do que de fato está]”, acrescentou.
O diretor pontuou que “esse é um cenário que dá um alento de que não é uma jabuticaba [peculiaridade brasileira] dessa vez”.
“Esporte de altíssimo risco”
Galípolo afirmou ainda que o “forward guidance”, que é a sinalização de passos futuros, é um “esporte de altíssimo risco”, especialmente para países emergentes, e que o Brasil “já se aventurou bastante nesse esporte”, indicando corte de 0,50 ponto percentual nos juros “nas próximas reuniões”, e garantindo o ritmo pelo menos em mais dois encontros, em dezembro e janeiro.
“O comportamento mais benigno brasileiro vem permitindo que, mesmo com cenário externo adverso, sejam feitos cortes na Selic”, disse.
O diretor do BC ressaltou que é preciso ter “parcimônia e serenidade” para avaliar a reação da economia e do cenário internacional, e reforçou o passo indicado de redução da Selic a partir dos desdobramentos dos cenários, caso o que o colegiado espera se confirme.
Fonte: Valor Econômico