A prestação de serviços financeiros está em processo de evolução. Tradicionalmente, a sugestão de alocação de ativos era feita por meio de carteiras sugeridas genéricas e que não focavam nas reais necessidades do investidor.
Agora, a prestação de serviços de alocação de ativos começa a ser customizada por cliente, conforme suas necessidades específicas, objetivos e apetite à risco. Tal evolução é importante porque, antes, ao tratar os investidores como se fossem iguais, partíamos da premissa de que todos tinham as mesmas necessidades.
Assumir que um investidor de perfil de risco agressivo sempre desejará aplicar em fundos de alto risco não é necessariamente verdadeiro. São naturais os questionamentos sobre o melhor momento para a tomada de decisão, a adequação do investimento ou se a escolha é compatível com o objetivo a ser perseguido.
Quando tratamos cada investidor de forma individualizada, partimos da premissa que existem diferenças entre os investidores e, ainda, que precisamos tratar essas diferenças na medida em que elas impactam as decisões individuais de investimento.
A estratégia de “gestão ativa do ativo” baseia-se na busca constante por ativos que estão apresentando maior rendimento ou, então, por aqueles que tem a perspectiva de render mais no futuro.
A premissa para que tal abordagem seja bem-sucedida é a de que a busca constante por modalidades de maior retorno será sempre a melhor alternativa para o investidor. Todavia, é natural que alguns ativos gerem retornos positivos e outros perdas porque, caso contrário, não haveria ganhadores e perdedores.
Além disso, retornos passados positivos podem representar perdas futuras, e vice-versa. Isso torna a dinâmica de tomada de decisão de investimento extremamente complexa mesmo para profissionais de mercado.
A maior crítica em relação a uma visão unicamente com foco nos melhores ativos para a tomada de decisão de investimentos é que ela está baseada em uma visão de curto prazo e em retornos passados que não necessariamente se repetirão no futuro.
Já a estratégia de “gestão passiva do passivo”, com foco no cliente, está relacionada a um processo puro de distribuição de produtos de investimento sem agregar serviços de aconselhamento e recomendação, que são atividades típicas de um consultor de valores mobiliários, e sem foco em um processo de “suitability” individualizado.
Mesmo a recomendação por meio de portfólios sugeridos de ativos, do tipo carteiras recomendadas por perfil de risco, pode ser considerada uma atividade de “gestão passiva do passivo” ou uma grande simplificação de um processo efetivo de “gestão ativa do ativo”.
Afinal, parte-se da premissa de que um universo enorme de investidores e suas necessidades possam ser atendidos por apenas três portfólios, segmentados em conservador, moderado ou agressivo, sem considerar outras individualidades como, por exemplo, o objetivo do investimento ou restrições de liquidez e de renda.
Imaginem 100 mil clientes com necessidades, restrições e capacidades de investimentos distintos, aderindo a apenas três possibilidades de composição de portfólios conservadores, moderados e agressivos.
No longo prazo, a chance de convergência entre as diferentes expectativas de risco e retorno dos 100 mil clientes e seus objetivos individuais em relação a esses três portfólios é praticamente zero.
O crescimento dos fundos de gestão passiva, tanto indexados quanto ETFs, passou a ser uma realidade nos Estados Unidos a partir do momento em que houve a transição do mercado de distribuição pura para a atividade de consultoria, na forma de uma nova estratégia de “gestão passiva do ativo”.
Atualmente, segundo dados do FACT Book (ICI), os fundos de gestão passiva representam 43% do volume total da indústria de fundos dos Estados Unidos, sendo 20% representados por fundos mútuos indexados e 23% por ETFs.
Por fim, a estratégia de “gestão ativa do passivo” é caracterizada pela recomendação de alocação de ativos totalmente individualizada conforme objetivos de investimento de curto, médio e longo prazos e parâmetros de risco validados pelo investidor. O valor agregado desta dinâmica está no fato de que a probabilidade de atendimento das necessidades individuais de cada investidor é muito maior do que na estratégia “gestão ativa do ativo”, por dois motivos.
O primeiro é que objetivos específicos de investimento levam em consideração quais modalidades são mais adequadas para cada situação. Neste sentido, variáveis como prazo de vencimento, indexador, moeda e risco são melhor endereçadas quanto maior for o detalhamento dessas necessidades. O segundo motivo é que os rebalanceamentos de portfólio serão ajustados com base em critérios individuais e não por meio de critérios gerais baseados no conceito de um único tamanho para todos (“one size fits all”).
Portanto, surge com o desenvolvimento tecnológico de ferramentas de gestão customizadas, um cenário cada vez mais promissor para que, de fato, consigamos adotar, de forma mais efetiva, um processo de gestão ativa dos portfólios por investidor.
Para os clientes, o resultado será a geração de um maior valor agregado do que o proporcionado pelos modelos atuais de distribuição baseados em fórmulas, muitas vezes, conflitadas por incentivos de remuneração que não atendem o melhor interesse dos investidores. Neste contexto, uma nova dinâmica, mais transparente, individualizada e menos conflitos será a base para o desenvolvimento e crescimento da atividade de consultoria de investimentos no Brasil.
Fonte: Valor Investe