Quem não lembra de João e o Pé de Feijão? Ele aceitou trocar a vaca da família por cinco feijões mágicos na esperança de que aquilo desse certo. Se funcionasse, daria à família dele todas as condições para não passarem mais fome.
Apesar do alto risco e inocência do João, o resultado foi a galinha dos ovos de ouros e bonança para ele e sua família.
No mercado financeiro há muitas histórias parecidas, com promessas de ganhos absurdos ou ativos com um risco tão elevado quanto o possível retorno. Podemos pensar em criptomoedas, opções de ações, índice e diversos outros investimentos.
Warren Buffett diz que o risco está em você não saber o que está fazendo e eu concordo, parcialmente, com essa filosofia.
O risco não está apenas em não saber o que você faz, mas sim ao desconhecer qual o tamanho daquele risco que você pode ter na sua carteira. Ao entender que tudo é questão da exposição do ativo versus seu patrimônio, o mundo se abre.
Hoje a taxa de juros está em 12,25% a.a. – um pouco mais de 1% ao mês, correto? Vamos supor que você tenha uma carteira de R$ 100 mil aplicados totalmente em renda fixa, rendendo R$1 mil por mês por causa da taxa de juros.
Depois do primeiro mês, você terá R$ 1 mil na sua carteira que veio de rendimento. Esse valor pode ser usado para operações de mais risco, menos risco ou até retirar para gastar e aproveitar o fruto do rendimento do seu dinheiro.
É interessante fazer a simulação dos 90% / 10% sendo o maior percentual em renda fixa, o segundo em ações das mais agressivas possíveis no mercado. Usando a matemática como base e considerando um juro de 12% ao ano e uma queda de 50% nas ações que compramos, teríamos o seguinte cenário:
- Aporte de R$ 100 mil, sendo R$ 90 mil em renda fixa e R$ 10mil em ações.
- Após um ano: os R$ 90 mil valorizaram 12%, ou seja, um total de R$ 100.800 e um valor em ações de R$ 5 mil, já que minha carteira desvalorizou 50%
Nesse cenário, mesmo perdendo 50% do total que investi em ações, ao final de um ano eu tenho pouco mais de R$ 105 mil – acima do dinheiro que coloquei como investimento, e ainda com teoricamente um mercado barato já que caiu 50%.
Se no segundo ano a carteira for realocada novamente, retirando 10% da renda fixa para comprar mais ações, caso o mercado suba, a carteira terá tido uma performance excepcional.
Esse exercício mostra que todo mundo pode ter ações, em proporções maiores ou menores, dependendo do seu apetite de risco e onde está o restante do seu dinheiro.
Grande é o questionamento sobre investir em criptomoedas. Se apenas 1% da carteira for investido nesses ativos e os outros 99% estiverem em renda fixa, o retorno de apenas um mês de rentabilidade será trocado pela exposição a um ativo totalmente volátil. Se ele “quebrar”, fará pouca diferença na carteira. Mas se ele valorizar 100%, o capital terá dobrado com um risco baixíssimo já que a alocação foi bem pensada.
Voltando à pergunta que deu inicio à essa análise: se alguém estivesse me vendendo feijões mágicos prometendo que eu poderia encontrar a galinha dos ovos dourados e eles me custassem até 1% da minha carteira, por que não?
Texto por Vitor Miziara (E-Investidor)