A Guide está pessimista com os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) neste ano e alerta investidores a serem cautelosos com esta classe de ativos. Ao menos por ora. A corretora explica que o cenário para 2024 implica em riscos maiores de calotes nos Certificados de Recebimento do Agronegócio (CRA), aos quais carteiras desses fundos estão muito expostas.
E a classe perde mais atratividade ainda, segundo a Guide, se considerado que, neste momento, o risco em Fiagros “parece maior do que o risco de produtos de investimentos semelhantes, como fundos imobiliários (FII) e fundos de infraestrutura (FI-Infra)”, afirma no relatório “Fiagros: onde investir ante queda da Selic e preços agro baixos”.
“O maior risco para o setor é a safra ruim [2023/2024] gerar dificuldades de pagamentos nos CRAs. Atualmente, alguns fundos já possuem operações em renegociação”, apontam os analistas Fernando Siqueira e Marcos Ferreira, que assinam a análise.
O mercado espera um ano de preços pressionados nas commodities agrícolas – especialmente grãos -na safra 2023/2024, que se encerra entre julho e setembro deste ano, dependendo do produto.
“O preço de produtos como soja e milho está perto das mínimas recentes. Alguns fundos já sinalizaram falta de pagamento em algumas operações e, em nossa visão, há chance de mais problemas no futuro”, reporta a Guide.
Tendo como base de comparação a última safra [agosto de 2022 e julho de 2023], o real atualmente mais apreciado ante o dólar (moeda em que as commodities são negociadas) deve abater ainda mais as receitas do setor. Produtores do agronegócio costumam ter vantagem de faturar em dólar e, de modo geral, suas dívidas serem em reais. Ainda assim, o volume desse passivo é geralmente elevado, porque o modelo de negócio exige investimentos expressivos para produção.
Os CRAs são um dos instrumentos por meio dos quais produtores (geralmente grandes produtores ou cooperativas) usam para levantar capital para investir em produtos, maquinário e mão de obra para garantir a compra de sementes, o plantio, colheita, transporte e – quando necessário – a armazenagem. Isso porque os pagamentos só entram no fim do período.
Mas o fim deste ciclo pode trazer surpresas positivas – como nas últimas três safras – ou bastante desagradáveis, embora um cenário de recuo do setor já seja esperado para este ano.
Preços mais baixos, moeda dos recebíveis (dólar) menos apreciada e custos elevados são os tais riscos crescentes de “faltar recursos para honrar os compromissos” de que a Guide trata.
Mas há ainda uma outra perspectiva no cenário que a corretora desenha para os Fiagros: queda dos dividendos.
Rentabilidade em queda
A Guide elabora o raciocínio da seguinte forma: a maioria dos ativos nas carteiras do Fiagros é indexada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário, que anda lado a lado com a Selic). Isso significa que, com a Selic em queda, esses ativos tendem a ser menos rentáveis.
“A Selic média de 2024 deve ser de aproximadamente 10% ante 13% em 2022. Em 2025, esperamos que a Selic média de aproximadamente 8%. Ou seja, uma redução na rentabilidade dos Fiagros já está ‘contratada'”, aponta o relatório.
Este é o ponto da queda de retorno. A outra questão que a corretora levanta é uma relação risco-retorno mais vantajosa em ativos indexados ao indicador de inflação do mercado, IPCA, que deve cair menos que a Selic.
A safra fraca esperada para 2024 e o impacto não mapeado do fenômeno El Niño, com efeitos mais devastadoras que previsto nas plantações, podem elevar o IPCA em 2024, segundo a Guide. “Em resumo, os proventos de ativos indexados ao CDI devem sofrer mais que os ativos indexados ao IPCA nos próximos dois anos”, traz o relatório.
Em quais Fiagros investir
O alerta da Guide não significa que não há espaço para investir em Fiagros neste ano. A própria corretora projeta rendimentos entre 13% e 15% nos maiores fundos da classe neste ano.
Mas, dado o cenário de risco apresentado, os analistas aconselham investidores a “fugir” de casos de Fiagros de menor liquidez, que carregam o risco adicional da dificuldade de se desfazer do investimento em caso de algum evento que impacte o fundo.
“Apenas oito fundos negociam acima de R$ 1 milhão por dia atualmente. Outros cinco negociam acima de R$ 500 mil por dia. De forma geral, a liquidez dos Fiagros ainda é pequena”, indicam Siqueira e Ferreira.
Por isso, para a corretora, as melhores opções neste momento são fundos maiores e mais diversificados – tanto em termos geográficos quanto de indexadores dos ativos e de produtos agrícolas envolvidos na carteira.
Para a Guide, fundos com 100% de exposição ao CDI trazem um risco alto e quanto mais baixa a concentração do Fiagro em um indexador, melhor.
Fonte: Valor Investe