A capacidade de adaptação é o que permitiu que milhares de espécies sobrevivessem ao longo de milhões de anos na Terra. E o que vale para o mundo vegetal e animal também se aplica ao mundo dos negócios.
A Mosaic Fertilizantes, uma das maiores produtoras globais de fertilizantes fosfatados e potássio combinados, estima uma economia de R$ 11 milhões com um processo de automação que reaproveita o vapor liberado por suas operações. Segundo Emílio Rosa, gerente de processo de alta concentração da companhia, trata-se de uma adaptação em dose dupla.
Primeiro, porque a ideia nasceu de um processo que já existia em um setor muito diferente da indústria de fertilizantes: a sucroalcooleira. Isso faz da Mosaic a primeira empresa do ramo de fertilizantes a tentar algo semelhante. Em segundo lugar, além dos ganhos financeiros, a medida serve para acelerar o desejo de ter uma operação mais sustentável e alinhada às práticas ESG, uma grande demanda do mercado e dos consumidores atualmente.
Como funciona
Dentro da Mosaic, o projeto é chamado de RTSB 100 (Real Time Steam Balance, ou Balanço de Vapor em Tempo Real, em português) e recaptura o vapor originado do resfriamento dos equipamentos que produzem ácido sulfúrico — um subproduto do enxofre obtido por meio de um aquecimento a mil graus Celsius.
Na prática, o novo sistema permite uma melhora na eficiência operacional da unidade de Uberaba (MG). Com a automação, os técnicos e engenheiros aprenderam como canalizar o vapor para ser utilizado em outras atividades do processo de produção, como geração de energia e/ou calor, além da obtenção de água condensada.
“O sistema em Uberaba é complexo, com várias unidades interligadas, o que pode causar interferências no processo [de recaptura de vapor para geração de energia], resultando em oscilações e perda de vapor para a atmosfera. O que fizemos foi implementar um sistema de controle online, com instrumentação, equipamentos e software, que juntos fazem a gestão automática do balanço de vapor”, explica o gerente de processo de alta concentração. “Comparo com um voo de avião: o piloto precisa ajustar a rota, mas, uma vez estabilizado, pode ativar o piloto-automático. O sistema funciona dessa forma, amortecendo as oscilações”.
Mosaic Fertilizantes e o Resultados no bolso
De acordo com Rosa, cerca de 100 mil toneladas de vapor já foram reaproveitadas desde 2023, quando o projeto começou a entrar em operação.
Como o vapor desperdiçado no ar se transforma em água, 30 mil m³ de água deixaram de ser captados por ano, resultando em uma economia de R$ 700 mil para a companhia. O vapor também abastece os turbogeradores de energia, contribuindo com 7 mil megawatts anuais — uma economia adicional de R$ 1,5 milhão em energia elétrica, já que 40% do total é gerado dentro da própria planta. O total representa o consumo médio anual de cerca de 3 mil pessoas.
Há também ganhos na redução de emissões de gases poluentes. Até o momento, foram 8,7 mil toneladas, gerando uma economia de R$ 9 milhões na compra de combustíveis. “Com esta e outras iniciativas, a companhia está no caminho para alcançar a sua meta de zerar a emissão de CO2 até 2040 nas operações no Brasil”, afirma Rosa. Além disso, a operação se tornou mais segura para os colaboradores da empresa.
O que começou como uma solução de sustentabilidade rapidamente se tornou um grande exemplo de como a preocupação com o meio ambiente e o aumento das margens de lucro podem andar lado a lado. “O retorno foi muito rápido. Então, eu sempre destaco isso: todo trabalho focado na sustentabilidade traz também um retorno financeiro. Isso nos deu bastante força para que as pessoas da empresa compreendessem o que estamos fazendo”, explica.
Desenvolvimento contínuo
A ideia de adaptar a solução encontrada em outra indústria veio para resolver uma antiga dor nos negócios de fertilizantes, já que era necessário alguém monitorar os balanços de vapor o tempo todo para tomar decisões — que nem sempre eram as melhores — para garantir o aproveitamento do material, gerando gastos desnecessários.
Para alcançar os resultados atuais, a Mosaic precisou investir em novos instrumentos, softwares, medidores de pressão e vazão, entre outros equipamentos.
O desenvolvimento começou em 2022, utilizando apenas uma planilha de Excel, e foi evoluindo na prática, aos poucos, até se chegar ao estágio atual. Hoje, 12 pessoas fazem parte da equipe multidisciplinar que cuida do projeto, envolvendo áreas como produção, engenharia de processos, automação e TI.
Segundo o gerente de processos da companhia, o RTSB 100 ainda está em fase de implementação, e o que se espera é que os resultados colhidos nos próximos anos sejam ainda mais expressivos.
De acordo com ele, apenas R$ 500 mil dos R$ 2 milhões reservados para o projeto já foram investidos. O restante deve ser aplicado em 2024 e 2025 para a compra de novos equipamentos que podem melhorar ainda mais tanto o resultado ambiental quanto o financeiro da companhia.
Como o projeto tem grande adaptabilidade, a companhia não descarta aplicar o mesmo mecanismo para outros subprodutos da cadeia de produção.
“Já estamos discutindo a implementação em outras unidades e também apresentamos a ideia para nossa unidade em New Wales, na Flórida, que é a maior da Mosaic. Vemos a possibilidade de outras empresas utilizarem essa tecnologia, pois as unidades de fertilizantes são semelhantes”, conclui.