Ao imergir nas múltiplas vivências dos entregadores por aplicativo, a dupla Igor Vecchi, de 32 anos, e Cristiano Dalbem, 34, entendeu que uma das principais dificuldades dos trabalhadores era acompanhar seus ganhos e gastos ao trabalhar com plataformas digitais de delivery. Com base nisso, os dois desenvolveram o aplicativo Meu Corre, que se propõe a ajuda na gestão financeira dos motoboys e motogirls das cidades brasileiras. Inicialmente, o app está disponível no Google Play, para dispositivos Android.
O projeto teve início em 2019, quando Igor Vecchi, formado em geografia, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro (RJ) para iniciar uma especialização em Planejamento Urbano. Na época, passou a morar no Bairro de Fátima, uma região central da capital fluminense com grande concentração de entregadores por aplicativo. Foi quando passou a observar as movimentações e demandas cotidianas desses trabalhadores.
“Eu notei que a presença dos entregadores estava cada vez maior no espaço urbano, sobretudo os entregadores de bicicleta. Na época, tinham muitos estudos sobre os motoristas por aplicativo [como Uber e 99], mas não tanto sobre os entregadores por plataformas de delivery. Então passei a notar quais eram as principais demandas deles e logo pensei em construir uma ferramenta que ajudasse nas suas condições de trabalho”, explica Vecchi.
Com essa ideia em mente, ele se juntou a Cristiano Dalbem, um amigo de longa data e cientista da computação com oito anos de experiência em design e produtos digitais. A união possibilitou a concretização do aplicativo Meu Corre, ferramenta que busca democratizar o acesso à gestão e organização financeira para os trabalhadores de entrega. Mais do que isso, a plataforma visa ajudá-los a compreender melhor o equilíbrio entre ganhos e despesas, sobretudo em meio à instabilidade e insegurança da profissão.
“Na plataforma, a pessoa entregadora preenche suas informações pessoais e as plataformas de entrega em que ela atua [iFood e Rappi, por exemplo]. Com isso, tem a opção de estabelecer metas financeiras em diferentes escalas, como diária, semanal e mensal. Além disso, o aplicativo tem uma categoria de gastos e indicadores de performance de trabalho. Todos esses dados servem para ajudar a entender qual é a plataforma que traz mais resultados. O aplicativo [Meu Corre] possibilita que o entregador veja as finanças de todas as plataformas em um só lugar”, conta Dalbem.
O aplicativo foi elaborado a partir de subvenções, por meio do Programa Startup Rio 2020, que destinou cerca de R$ 56 mil ao projeto, e do edital do Fundo Brasil, por meio do Fundo Labora – Apoio ao Trabalho Digno, que viabilizou mais R$ 55 mil. O plano é manter iniciativa apenas com recursos de financiamento público.
“O projeto não se trata de uma empresa, não tem fins lucrativos. A gente pretende se consolidar como uma ferramenta de apoio de conscientização financeira aos trabalhadores, por meio de uma interface de subsídios. Lançamos a ferramenta há uma semana e já temos mais de 1.000 profissionais cadastrados”, relata Vecchi.
No momento, o aplicativo não é integrado às plataformas de entrega por delivery. Sendo assim, o usuário precisa inserir manualmente as informações de ganhos e gastos que tem em cada ferramenta de trabalho. A partir disso, o Meu Corre reúne as fontes de renda e calcula automaticamente a performance do profissional, com indicadores como saldo e ganho por quilômetro e por hora.
“Durante as nossas investigações, vimos que fazer esse tipo de integração automática teria um gasto enorme. Comparando ao que tínhamos de recursos na época, seria inviável, então tivemos de simplificar muito o aplicativo para conseguir botar ele na rua”, comenta Dalbem. “Conversando com entregadores, vimos que eles fazem a gestão financeira em bloquinho de notas, por exemplo. Então acreditamos que estamos entregando uma solução que já é mais prática, mais acessível, mais interessante do que muito do que eles usam hoje.”
Em todo o processo de construção do projeto, Vecchi e Dalbem ouviram os motoboys e as motogirls, questionando-os sobre como o aplicativo poderia ser mais inclusivo e dinâmico em funcionalidades para quem trabalha todos os dias nas ruas.
“Muitos entregadores relatam uma ausência de escuta em relação às plataformas. Quisemos justamente construir uma ferramenta que estivesse relacionada às demandas que não são escutadas, focando em um compromisso e em um vínculo de confiança com os trabalhadores”, diz Vecchi.
Fonte: Pequenas Empresas, Grandes Negócios