Enquanto Arezzo e Soma discutem os termos de uma potencial fusão, analistas, gestores e consultores recorrem às planilhas de Excel na tentativa de estimar, ainda que precocemente, as sinergias do negócio. O alvoroço em torno desse tema veio depois que, a partir dos bastidores da Arezzo, circulou a cifra de R$ 4,5 bilhões — o número impressionou por um lado e foi recebido com ceticismo por outro.
Ainda que discutido no conselho da Arezzo, esse número ainda não foi apresentado pelo fundador Roberto Jatahy ao board do Soma, apurou o Pipeline. O conselho ainda vai deliberar sobre a fusão e quer uma opinião de terceiros sobre a relação de troca, considerada inicialmente desfavorável por alguns membros mas com aprovação do fundador e controlador. Não há reunião agendada para esta sexta-feira.
Ninguém discute que há méritos na transação: não só o alinhamento dos controladores é demonstração disso, como o reflexo imediato que a negociação causou nos papéis de ambas em bolsa. Os debates no mercado são sobre a magnitude das sinergias, desde backoffice e logística a fiscal, prazo para isso e a fatia de cada um.
Analistas do Jefferies dizem que o valor cogitado hoje pelas empresas parece superestimado, considerando o faturamento combinado de R$ 12 bilhões e um Ebitda de R$ 1,5 bilhão. Nas contas do banco, os ganhos estariam mais próximos de R$ 2,8 bilhões — ainda assim um número significativo. A maior parte disso, cerca de R$ 1,2 bilhão, seriam em despesas administrativas, diz o banco; R$ 700 milhões em melhorias operacionais de franquia; R$ 500 milhões em economia de custo na Reserva por meio de fabricação da Hering; e outros R$ 400 milhões em vendas cruzadas.
A Arezzo teria calculado também o potencial de crescimento em calçados e acessórios em marcas do Grupo Soma como Animale, Hering e NV, além de otimização do custo de produção da marca Reserva com a utilização das fábricas da Hering para itens similares.
A transação criaria um conglomerado com 34 marcas, 2 mil lojas próprias e cerca de 21 mil canais de venda via multimarcas no país. A integração também uniria esforços de duas marcas em pleno processo de internacionalização: a Schutz e a Farm. Após M&As nos últimos anos, ambas vieram trabalhando para absorver as aquisições. Enquanto o Soma não concluiu totalmente a integração da Hering, a Arezzo digeriu a Reserva.
“Existem algumas sinergias mais óbvias, com o alinhamento da retaguarda mas, como em toda fusão, o desafio está no processo de integração, alinhamento de culturas, e na governança que vai se desenhar, na complexidade dos processos e sistemas”, diz Alberto Serrentino, consultor especialista em varejo e fundador da Varese Retail.
Para Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, a discussão no campo estratégico acaba sendo refinada no nível tático. “As complexidades muitas vezes são subestimadas. Supondo que saia o negócio, são dois grandes desafios: captura real da sinergia calculada e a combinação das culturas. Esse ganho não é tão simples de ser extraído, é algo que leva anos e exige investimento, planejamento”, diz a especialista em varejo.
Em outro segmento, ainda no varejo, a Natura recalculou algumas vezes o volume das sinergias com a aquisição da Avon. A gigante brasileira de cosméticos chegou a estimar uma economia de US$ 350 milhões a US$ 450 milhões por ano somente com corte de custos, mas ainda não conseguiu extrair esses valores. Há quem coloque a cifra na conta dos controladores. “É um número bastante alto, mas eu colocaria na equação o fato de o Birman e o Jatahy serem caras bastante obstinados. Se a Arezzo apresentar mesmo esse número a mercado, o Birman vai pressionar muito para a turma entregar”, diz um gestor que conhece bem o empresário.
Fonte: Pipeline