Conforme caminha a regulação do mercado de criptomoedas no mundo, avança também a possibilidade de uma expansão do perfil do investidor no segmento, inicialmente caracterizado pela pessoa física, seja do varejo, sejam profissionais ou qualificados.
O lançamento dos ETFs com exposição direta a bitcoin no mercado norte-americano destravou uma demanda reprimida, que já levou US$ 60 bilhões de capital novo para esse mercado proveniente dos investidores institucionais, como bancos, fundos de investimentos e corretoras.
No Brasil, a Resolução 175 da CVM, que entrou em vigor em outubro do ano passado, passou a permitir aos fundos multimercados brasileiros a compra de criptomoedas em exchanges reguladas, sem a necessidade de aplicação indireta por meio de veículos no exterior, como ETFs.
É nesse contexto que a B3 Digitas, do grupo B3 (a bolsa brasileira), se prepara para lançar uma exchange institucional, no caminho onde já figuram as plataformas da Mynt, do BTG Pactual, e do Mercado Bitcoin.
“A demanda do investidor institucional está aguardando a regulação. Haverá um destravamento de valor quando houver mais certeza regulatória”, afirma Jochen Mielke de Lima, presidente da B3 Digitas. “O institucional se sente mais seguro e passa a estudar formas e teses de aportar fundos em ativos digitais.”
Batizada em seu nascimento, no início de 2022, como B3 Digital Assets Serviços Digitais, a empresa teve suas atividades autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em junho do mesmo ano, com o objetivo de ser referência no fornecimento de infraestrutura tecnológica para o crescente ecossistema cripto.
Atualmente, o portfólio conta com os serviços Digitas Hub e Plataforma Digitas. Para este ano, as energias estão voltadas também para, além do desenvolvimento de uma exchange institucional, um serviço de custódia de criptoativos.
“2023 foi um ano em que a gente começou a se posicionar com o fornecimento de serviços, soluções e infraestrutura, em um modelo B2B, para ativos digitais”, afirma Mielke, reforçando que “o cliente sempre vai ser uma instituição”.
O impacto que a B3 Digitas tem no varejo é o de permitir e facilitar que instituições financeiras possam fornecer serviços cripto para seus clientes pessoa física, por meio do Digitas Hub.
Em junho do ano passado, o banco Inter passou a ser o primeiro cliente da B3 Digitas, fornecendo aos seus clientes operações de compra e venda de criptomoedas, utilizando o Digitas Hub, em um modelo conhecido como “crypto as a service”, ou CaaS. “Mesmo sendo B2B, você tem um serviço que atende uma demanda do varejo”, ressalta Mielke.
“Essa operação está andando bem, ao longo desses últimos meses, aproveitando a valorização das criptomoedas”, afirma ele, acrescentando que, além da oferta inicial de cinco das maiores criptos em valor de mercado – bitcoin, ethereum, tether, litecoin e ripple -, o Digitas Hub já pode fornecer um total de 20 moedas diferentes. “É à escolha do freguês”, brinca Mielke.
Desde o lançamento da plataforma do Inter, só o bitcoin já registrou um salto de 130% de valorização.
Já a Plataforma Digitas é um ambiente voltado para os interessados em tokenização de ativos, fornecendo infraestrutura para o processo e um ambiente de negociação.
A ampliação desse ‘menu’ faz parte da visão estratégica da B3 Digitas para 2024. “É a continuação do propósito de fornecer soluções e infraestrutura com grande amplitude no mercado de ativos digitais”, ressalta Mielke.
A exchange institucional que a B3 Digitas está construindo não é muito diferente do conceito de infraestrutura tecnológica e de negócios que a própria B3 já fornece ao mercado de ações. Mas contará com a tecnologia intrínseca e característica do mercado cripto, 100% construído em uma rede criptografada, onde os registros não podem ser apagados ou adulterados (a blockchain), para investidores institucionais terem acesso à compra e venda de criptomoedas, em um mercado que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, em todo o mundo.
“Investidores como fundos, distribuidores, entre outros agentes institucionais contarão com um ambiente de negócios que, ao invés de estar negociando ativos como ações ou derivativos, poderão negociar ativos digitais”, explica Mielke.
Custódia e regulação
Também acompanhando o andamento do processo de regulamentação dos prestadores de serviços virtuais (VASPs, na sigla em inglês), que está sendo construída pelo Banco Central, a disponibilização de um serviço de custódia de ativos digitais está em desenvolvimento na B3 Digitas.
“Estamos estabelecendo as bases tecnológicas para a prestação desse serviço e acompanhando muito de perto os avanços regulatórios”, afirma Mielke. Em janeiro, o BC encerrou a primeira consulta pública sobre a norma infralegal, em que coletou sugestões de diversos agentes do mercado (e de pessoas comuns também), inclusive da própria B3 Digitas.
“O Banco Central vai trabalhar agora os dados da primeira fase da consulta pública e abrir uma segunda com as normas um pouco mais estabelecidas e, depois, aprovar o conjunto de regras regulatórias para os VASPs”, detalha o presidente da B3 Digitas. Nesse processo, o BC vai estabelecer os papéis, direitos e deveres dos participantes do mercado, entre os quais os custodiantes.
“Essa regulação pode, de uma forma geral, ditar muito qual será o caminho que o nosso negócio de custódia vai tomar”, observa Mielke. “Enquanto isso, estamos estabelecendo as bases tecnológicas para poder fornecer um serviço de qualidade e segurança”, afirma. “A custódia de criptoativos é, de longe, um dos negócios mais complexos do segmento.”
“É preciso ter um sistema robusto que não permita hackeamento dos dados. O nome do jogo aqui é segurança cibernética”, destaca. Assim como na própria B3, Mielke reforça o comprometimento com governança e segurança de informação na B3 Digitas.
Ele ressalta, no entanto, que ainda não há prazo definido para o lançamento dos novos serviços. “A gente está olhando para 2024 como um ano de construção, enquanto trabalhamos no reforço do Digitas Hub.”
Fonte: Valor Investe