O Brasil mantém uma larga visão favorável aos EUA, muitas vezes mais otimista até do que a forma como os próprios americanos veem seu país, de acordo com uma pesquisa do instituto Pew publicada no último mês. O levantamento ouviu 27 mil adultos em 23 nações e apontou que, no Brasil, 63% da população tem uma visão favorável aos Estados Unidos, acima da média global, de 59%, com mais confiança nas intenções do país no mundo, na democracia, no Exército e até na produção cultural e intelectual americana.
Esse apego do Brasil pelos americanos vem ao menos desde 2010, onde começa a série histórica da opinião dos brasileiros segundo a Pew, sempre com ao menos metade da população favorável aos EUA. Além do povo brasileiro, a pesquisa escutou adultos de diferentes países, entre fevereiro e maio, como: Canadá, França, Alemanha, Grécia, Itália, Japão, Holanda, Coreia do Sul, Espanha, Suécia, Reino Unido, Hungria, Polônia, Índia, Indonésia, Israel, Quênia, Nigéria, África do Sul, Argentina, México e Austrália.
Funcionou todo o investimento que os americanos vêm fazendo ao longo do último século em “soft power” — ou poder brando, conceito da teoria das relações internacionais que explica a influência de um país sobre outros em geral a partir de parâmetros culturais, em oposição ao “hard power” (poder duro) em que a persuasão é exercida pela força ou capacidade econômica. Não importa que o Brasil tenha uma poderosa indústria televisiva, com exportação de novelas para todos os cantos do mundo, e alguns músicos de renome internacional.
Para 48% dos brasileiros entrevistados, os Estados Unidos produzem o melhor entretenimento do planeta quando se pensa em cinema, música e televisão. Enquanto entre os americanos apenas 30% concorda com essa afirmação.
As universidades americanas também estão muito bem na avaliadas pelos brasileiros: 51% acredita que o ensino superior nos EUA é o melhor do mundo, enquanto 15% dos americanos diz o mesmo. Nesse caso, rankings internacionais costumam apontar prevalência de instituições americanas. No Times Higher Education deste ano, são 34 universidades dos EUA entre as 100 melhores do mundo, acima de outras potências acadêmicas como Reino Unido (10), Alemanha (9) e China (7).
O padrão de vida nos EUA e os avanços tecnológicos do país também são melhor avaliados pelos brasileiros do que pelos próprios americanos. O único critério da pesquisa em que a avaliação é quase igual é em relação à opinião sobre os militares dos EUA, que são os melhores do mundo para 41% dos brasileiros e 40% dos americanos.
Há também bastante esperança entre os brasileiros nas instituições do norte: 38% juram que os EUA são mais estáveis politicamente que outros países ricos, número que cai para 23% entre os próprios americanos —que viram suas últimas eleições presidenciais contestadas pelo presidente no poder e tiveram o Legislativo invadido. Além disso, para 44% dos brasileiros, os EUA são um país menos inseguro que outras nações ricas, enquanto apenas 28% dos americanos pensam assim.
Não está de todo perdida a autoestima dos americanos, porém, que dizem ser mais democráticos (42%) e tolerantes (44%) do que outras nações. Quando se olha o papel que os EUA ocupam no mundo, os americanos também costumam se ver mais como mocinhos, enquanto a média dos outros países pensa de maneira diferente. Para 69% dos americanos, os EUA contribuem para a paz e estabilidade global, número que cai para 61% na média global —entre brasileiros, 64% têm essa opinião. Enquanto isso, 71% dos americanos dizem que seu país leva em conta os interesses de outras nações ao tomar decisões, mas menos da metade do restante do mundo concorda com isso (49%).
Mesmo que a China seja o principal parceiro comercial do Brasil há 14 anos e apesar de esforços do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em acenar para o outro lado do mundo, a opinião pública ainda considera os EUA mais relevantes economicamente (segundo 42%) do que os chineses (30%). É um número próximo à média global (41% e 33% respectivamente). Mas essa proporção se inverte em países próximos de Pequim, como a Austrália (39% citam os EUA, e 50%, a China), e algumas nações europeias, como Itália, Espanha, Grécia, Alemanha e França. Até no Reino Unido as opiniões são divididas: 40% citam os EUA e também 40% citam a China como principal potência econômica global.
Vale ressaltar que nem todos os países têm uma opinião sobre os americanos tão favorável quanto a dos brasileiros. “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”, diz a famosa frase atribuída a Porfírio Díaz (e de autoria contestada), presidente do México no século 19. É maior entre os mexicanos a proporção dos que afirmam que os EUA são menos tolerantes (48%) e menos democrático (30%). Além disso, 48% afirmam que os EUA não contribuem para a paz e a estabilidade do mundo e a mesma proporção diz que os americanos não consideram os interesses de outras nações.
Mas são os húngaros que fazem a pior avaliação dos Estados Unidos: mais da metade, 51%, têm uma opinião negativa sobre o país. Além disso, apenas 19% deles disseram confiar no presidente americano, Joe Biden, como líder global. A Hungria é comandada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, eleito no ano passado para o quinto mandato com ampla aprovação. Forte apoiador de Donald Trump (além de Jair Bolsonaro), Orbán é alvo de críticas de países do Ocidente por sua escalada autoritária e não foi convidado para as duas edições da Cúpula da Democracia que Biden organizou.
O democrata também enfrenta resistência de alguns outros países da Otan, como Espanha, França, Grécia e Itália, onde cerca de metade dos entrevistados dizem que não confiam no mandatário americano em assuntos globais. O presidente americano, porém, é melhor avaliado que seu antecessor, sobretudo em nações de renda média, como o Brasil, onde 44% diz confiar no político, contra 28% em Trump na última pesquisa, em 2019.
Já a Polônia é o país com opinião mais favorável aos EUA entre os pesquisados, com 93% dos poloneses com visão positiva dos americanos e 83% de confiança em Biden. Assim como a Hungria, o país também é liderado por um líder considerado populista de direita, Andrzej Duda, com histórico de desentendimento com a União Europeia. Também membro da Otan, no entanto, a Polônia é vizinha da Ucrânia e aliada importante dos americanos na assistência dada a Kiev na guerra no leste europeu. A visão positiva sobre os EUA no país cresceu após o começo do conflito. Outro alto índice favorável aos EUA é o de Israel, com 87%, principal aliado americano no Oriente Médio. Coreia do Sul, Nigéria, Japão e Quênia completam a lista dos lugares onde os EUA estão melhor avaliadas.