“O mercado busca previsibilidade, e a ausência de um plano claro pode comprometer não apenas a recuperação da economia, mas também o esperado rali de final de ano”, Jefferson Laatus, sócio-fundador do grupo Laatus.
O recente cancelamento da viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi amplamente interpretado como uma resposta ao movimento do mercado na última sexta-feira, quando o dólar atingiu a marca de R$ 5,85. “Esse cenário é visto como um alerta de que o governo precisa apresentar um plano fiscal sólido, especialmente com o fim do ano se aproximando. A pressão do mercado tem sido clara: a falta de um pacote fiscal convincente pode levar a uma desvalorização contínua da bolsa e à alta do dólar”, explica Jefferson Laatus, sócio-fundador do grupo Laatus.
Durante a semana, o governo hesitou em apresentar um pacote fiscal, e as declarações de Haddad foram consideradas evasivas e pouco claras. “Ele admitiu não ter uma data definida para a entrega do pacote e não especificou valores concretos. Essa incerteza gerou um estresse considerável entre os investidores, culminando na alta do dólar. A repercussão desse movimento certamente chegou ao Palácio do Planalto, levando Haddad a cancelar sua viagem”, destaca.
Embora o cancelamento seja visto como um sinal positivo de que o governo está atento às demandas do mercado, isso não é suficiente. “A urgência de um pacote fiscal consistente e coerente, que vá além de soluções pontuais, é fundamental. O mercado busca previsibilidade, e a ausência de um plano claro pode comprometer não apenas a recuperação da economia, mas também o esperado rali de final de ano. Se as medidas necessárias não forem implementadas de forma eficaz, o país pode enfrentar uma “sangria de Natal”, com o dólar possivelmente alcançando a casa dos R$ 6,00″, ressalta.
A pressão sobre Haddad aumenta, uma vez que a necessidade de um plano fiscal que atenda às exigências do mercado é cada vez mais evidente. Entretanto, o desafio é grande, pois cada proposta parece impactar negativamente diferentes setores e a opinião pública. “Assim, a incerteza permanece, e a falta de um direcionamento claro pode levar a um agravamento da situação econômica no Brasil”, frisa.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, aponta que o cancelamento da viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à Europa, solicitado pelo presidente Lula, indica um compromisso real do governo com a agenda de cortes de gastos e com as pressões fiscais internas. “Essa decisão alimenta a expectativa de que medidas para a redução de despesas poderão ser efetivamente implementadas, o que pode ajudar a amenizar as tensões no mercado. Além disso, ao permanecer no Brasil, Haddad demonstra uma prioridade em relação a questões econômicas nacionais, o que pode ter um impacto positivo imediato sobre o dólar, contribuindo para a diminuição da volatilidade da moeda em relação ao real”, diz.
Trajetória recente do dólar frente ao real
No dia 1º de novembro o dólar disparou no Brasil, encerrando o dia na maior cotação em quase quatro anos e meio. A moeda alcançou seu segundo maior valor nominal da história, superada apenas pelo pico registrado em 13 de maio de 2020, durante a pandemia de Covid-19. A busca por proteção na moeda americana se intensificou em um contexto de desconfiança em relação à política fiscal do governo Lula, somada às incertezas sobre a possível vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Durante a tarde, o dólar acelerou os ganhos, ultrapassando a marca de R$ 5,86, impulsionado pelo temor fiscal, novos dados sobre a atividade econômica brasileira e a atenção voltada para as eleições presidenciais. Esse movimento reverteu a tendência observada mais cedo, quando os dados do mercado de trabalho americano eram analisados.
O fechamento do dólar à vista foi em alta de 1,53%, cotado a R$ 5,8699, o maior valor desde 13 de maio de 2020, quando encerrou a R$ 5,9012, reflexo da escalada da pandemia. Ao longo da semana, a moeda americana acumulou uma alta de 2,86%. Às 17h09, na B3, o contrato futuro de dólar com primeiro vencimento registrava um aumento de 1,37%, cotado a R$ 5,8880 na venda.