As bolsas de Nova York registraram resultados positivos em fevereiro, puxadas especialmente pelos bons balanços corporativos. No entanto, as incertezas a respeito do futuro dos juros por lá faz com que os brasileiros que investem no mercado americano sigam com uma postura mais conservadora. Na lista de ações favoritas, empresas consideradas mais seguras e confiáveis são as principais escolhas. Entre os fundos preferidos, uma versão americana do famoso “fundo DI” é a bola da vez.
As ações favoritas
Segundo o levantamento mensal feito pela corretora Avenue, que oferece uma plataforma para os brasileiros investirem no mercado americano, a lista das dez ações mais investidas em fevereiro segue majoritamente conservadora, com companhias já consolidadas, conhecidas do público brasileiro e mais resilientes a possíveis crises pontuais.
Na passagem de janeiro para fevereiro, o ranking das dez ações mais investidas teve duas mudanças. As ações da fabricante de chips Nvidia e da gigante do ramo de higiene Johnson & Johnson deram espaço aos papéis da Meta (dona do Facebook) e da Berkshire Hathaway, empresa comandada pelo megainvestidor Warren Buffett.
Enquanto a Nvidia ganhou apelo mais recentemente com a corrida da inteligência artificial, a Berkshire Hathaway é reconhecida por sua solidez há muito tempo. A empresa é conhecida por entregar bons resultados aos acionistas com sua estratégia de selecionar os melhores ativos para seu portfólio. Recentemente, a empresa registrou um aumento de 28% em seu lucro operacional e se aproximou da cifra de US$ 1 trilhão em valor de mercado. Caso ultrapasse o valor, a companhia será a primeiro empresa dos EUA fora do setor tecnológico a atingir tal capitalização.
A Nvidia, por sua vez, se tornou recentemente a quarta empresa mais valiosa do mundo. A grande questão, no entanto, é que investidores ponderam se a companhia terá fôlego para novos recordes ou altas significativas.
Seja como for, os investidores seguem apostando no segmento de tecnologia, mas em fevereiro as apostas foram em companhias mais familiares aos investidores brasileiros.
Não à toa, a liderança ficou novamente por conta da Apple. A fabricate do iPhone levantou preocupações após a venda na China (seu terceiro maior mercado) diminuir e as ações apanharam recentemente. No entanto, há quem tenha visto como uma oportunidade de comprar um bom papel a um preço mais atrativo.
Em segundo lugar estão as ações da Amazon, que registraram lucro e receita acima das expectativas no quarto trimestre e viram suas ações subirem na bolsa americana.
Ainda no segmento de tecnologia, as ações da Alphabet (dona do Google) apareceram na quarta colocação no ranking das favoritas dos brasileiros em fevereiro após registrarem um lucro acima das expectativas.
Na sequência, em quinto lugar, vêm os papéis da montadora de veículos elétricos Tesla, que é classificada como uma empresa de tecnologia por usar programação na sua linha de produção. A empresa também registrou um lucro por ação maior do que o previsto no balanço, mas a receita ficou aquém do esperado, e houve quem se aproveitasse da queda das ações para comprá-las a um preço “promocional”.
Outras duas empresas do setor que aparecem no ranking são a Microsoft, em sétimo lugar, e a Meta (dona do Facebook) em oitavo. A fabricante do Windows foi a primeira empresa na história a alcançar o valor de mercado de US$ 3,1 trilhões, o que atraiu mais investidores. Já a dona do Facebook e do Instagram, registrou recentemente o maior ganho em valor de mercado em um único dia nos EUA, o que também se reflete na demanda por seus papéis.
É importante lembrar que além dos resultados trimestrais positivos, o favoritismo desses papéis junto ao público brasileiro tem outras explicações. A primeira razão para elas estarem em destaque foi a recuperação que esses papéis tiveram ao longo de 2023 e no começo de 2024. Uma outra explicação é o fato de elas serem empresas conhecidas e presentes no dia a dia dos investidores. E justamente por elas terem se recuperado de um momento de crise como foi 2022, elas passaram a se posicionar, cada vez mais, como papéis “conservadores”, capazes de manter a resiliência diante de um cenário difícil.
Além das “big techs”, quem completa o ranking são outras ações de companhias conhecidas e consolidadas, como a Disney, que ficou em terceiro lugar e a Coca-Cola, que ficou na sexta posição.
Assim como as empresas de tecnologia, elas aparecem como uma opção para os brasileiros justamente por serem familiares ao público local e mostrarem mais resistência em momentos de crise.
Embora muitas vezes elas não apresentem um potencial de ganho tão forte quanto outros papéis, em momentos mais conturbados, de queda generalizada no mercado, elas tendem a sofrer menos, porque são companhias consolidadas e com demandas quase perenes.
Por fim, completa a lista o REIT (nome dado aos “fundos imobiliários americanos”) Realty Income Corporation, que ficou em décimo lugar na preferência dos brasileiros em fevereiro. O ativo se mostra como uma alternativa de renda recorrente para seus investidores por meio da distribuição de dividendos.
Postura conservadora em outros investimentos
Além da lista das ações favoritas dos investidores brasileiros nos Estados Unidos seguir mais conservadora, esse comportamento também é visto em outras classes de ativos. Na lista dos fundos preferidos, por exemplo, o “US Money Market” é o líder.
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o produto é parecido com o famoso “fundo DI” no Brasil. Ou seja, aqueles fundos de renda fixa que têm a maior parte da sua cesta aplicada em títulos atrelados ao CDI ou à Selic.
O especialista afirma que, com o cenário de incertezas, os investidores cadastrados na plataforma têm adotado uma postura de “esperar para ver”.
“Temos 3 mil clientes nesse fundo US Money Market, que é uma espécie de fundo DI americano. O que percebemos é que o investidor estaciona uma parte do dinheiro ali para depois ver o que vai fazer. Muitos ainda estão aprendendo como funciona e aí aproveitam que os juros estão altos, deixam ali, e depois alocam em outras coisas”, afirma.
Segundo Castro Alves, dos “novos montantes” chegados à Avenue, a maior parte vai para os fundos e para os títulos de dívida (também chamados de “bonds”, que podem ser títulos públicos ou de empresas).
A própria lista dos “bonds” favoritos mostra o quanto o investidor prefere alocar em coisas já conhecidas. Em primeiro lugar no ranking estão os títulos do próprio governo americano (também chamados de “treasuries”). Na sequência, porém, aparecem títulos do Itaú Unibanco e até mesmo da Petrobras.
Veja a lista dos ativos favoritos dos brasileiros nos EUA em fevereiro
ETFs americanos favoritos dos brasileiros em fevereiro
Colocação | ETF | O que é? |
1 | VNQ | ETF que segue o Vanguard Real Estate, um dos indicadores de desempenho do setor imobiliário dos Estados Unidos |
2 | VOO | ETF que segue o índice S&P 500 |
3 | QQQ | ETF que segue o índice Nasdaq 100 Index |
4 | IAU | ETF que segue o preço do ouro |
5 | VT | ETF que segue o Vanguard Total World Stock ETF, que reúne quase 9 mil ações de 47 países |
6 | IVV | ETF que segue o índice S&P 500 |
7 | SLV | ETF que acompanha o preço do metal prateado |
8 | TFLO | ETF que segue o índice de títulos públicos Treasury Floating Rate Bond |
9 | NOBL | ETF que replica as grandes empresas atreladas ao S&P 500 que mais pagam dividendos |
10 | SPY | ETF que segue o Standard & Poor’s 500 Index |
Fundos americanos favoritos dos brasileiros em fevereiro
Colocação | Fundo |
1 | US Money Market |
2 | US Fixed Income |
3 | US Equity Large Cap |
4 | Global Fixed Income |
5 | Global Equity Large |
Bonds favoritos dos brasileiros nos EUA
Colocação | Bonds |
1 | United States of America |
2 | ITAU UNIBANCO SA NASSAU BR |
3 | Goldman Sachs Group Inc/The |
4 | Citigroup Inc |
5 | ITAU UNIBANCO NASS |
6 | Petroleo Brasileiro SA |
7 | ITAU UNIBANCO SA NASSAU BRH |
8 | Bank of America Corp |
9 | JPMorgan Chase & Co |
10 | Suzano SA |
Fonte: Valor Investe