O debate sobre o consumo de energia da Inteligência Artificial (IA) ganha cada vez mais relevância à medida que a tecnologia se expande. Projeções recentes indicam que a IA pode representar 0,5% do consumo global de eletricidade até 2027, um número aparentemente modesto que esconde uma tendência preocupante.
É neste contexto que o Instituto de Pesquisa em Sustentabilidade da Schneider Electric apresenta um estudo sobre as relações entre IA e transições energéticas. A pesquisa projeta quatro cenários possíveis para o consumo de eletricidade da IA até 2035, oferecendo insights para formuladores de políticas e líderes empresariais.
Cenários para a transição energética com IA
O cenário mais alarmante, denominado “abundância sem limites“, projeta um aumento explosivo no consumo de energia: de 100 TWh em 2025 para 1370 TWh em 2035. Esta projeção considera um crescimento acelerado no treinamento de modelos de IA generativa, com aumentos de 5 a 6 vezes ao ano, e conjuntos de dados que crescem 3,5 vezes anualmente, ultrapassando 50 trilhões de tokens.
Em contrapartida, o estudo apresenta um cenário mais otimista chamado “IA Sustentável“, que demonstra ser possível alcançar um equilíbrio entre avanço tecnológico e sustentabilidade. Até 2035, serão 785 TWh. Este cenário enfatiza o uso de algoritmos energeticamente eficientes e designs inovadores de data centers, estabelecendo uma relação simbiótica entre IA e fontes renováveis de energia.
“Os números atuais já são significativos”, aponta o estudo, revelando que em 2023 os modelos de linguagem consumiram 7,18 TWh, enquanto modelos multimodais utilizaram 0,63 TWh. A pesquisa projeta um crescimento expressivo no número de prompts processados, saltando de 78 bilhões em 2023 para 153 bilhões em 2025, com uma taxa de crescimento anual composta de 40%.
O estudo também alerta para dois cenários intermediários: “Limites ao Crescimento“, que demonstra que apenas restringir o consumo energético pode ser insuficiente para garantir sustentabilidade, atingindo 570 TWh em dez anos. Já a “Crise Energética” ilustra os riscos de um desenvolvimento tecnológico que ultrapassa a capacidade da infraestrutura elétrica, marcando 670 TWh em 2030, antes da queda drástica em 2035 para 190 TWh.
Para evitar os cenários mais pessimistas, a Schneider Electric propõe uma série de soluções, incluindo a otimização de data centers com sistemas de refrigeração mais eficientes, o desenvolvimento de algoritmos que consumam menos energia e a priorização de fontes renováveis. A pesquisa destaca avanços promissores em hardware, como o sistema NVIDIA GB200 NVL72, e em formatos de processamento mais eficientes.
Os pesquisadores enfatizam que o futuro da IA não precisa ser um jogo de soma zero entre inovação e sustentabilidade. “É possível desenvolver IA de forma responsável e sustentável”, sugere o estudo, que recomenda uma abordagem equilibrada baseada em inovação consciente dos recursos, responsabilidade socioecológica e governança robusta.