No mês seguinte ao início das negociações dos ETFs de bitcoins no maior mercado financeiro do mundo (os EUA), o aumento de volume e o aumento de preço são consequências diretas dessa mudança de paradigma. Em fevereiro, os investidores de bitcoin viram seus ganhos atingirem 45% e os de ethereum celebraram 46% a mais na conta. Na medida em que as criptomoedas passam a ser mais aceitas, sobretudo por grandes atores do mercado americano, elas alçam voos cada vez mais altos. A onda de supervalorização vem desde o ano passado e se intensificou quando a BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, lançou um fundo de índice negociado em bolsa (ETF) de bitcoin.
“Simultaneamente aos pedidos de aprovação dos ETFs de Bitcoin, a SEC (o equivalente à CVM nos EUA) recebeu também solicitações de diversas gestoras, com destaque para a BlackRock e Fidelity, protocolando as regulações para os ETFs de Ether. A expectativa é que a próxima onda de aprovações traga para o Ethereum uma valorização acima do próprio Bitcoin, que já rompeu mais de uma vez suas máximas nas últimas semanas, enquanto o Ether sobe acima do patamar dos últimos dois anos, mas ainda sem ter atingido a sua máxima”, explica Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital.
A euforia também se reflete na bolsa brasileira. Na lista dos dez ETFs mais rentáveis de fevereiro, há fundos de criptomoedas do começo ao fim, repetindo o movimento de forte alta visto em 2023, de acordo com um levantamento da Quantum. Entre esses ETFs, houve ganhos que ultrapassaram 56% só em fevereiro, como foi o caso do DEFI11, gerido pela Hashdex.
O produto acompanha os tokens do segmento conhecido no mundo das criptomoedas como DeFi, sigla em inglês para o termo “finanças descentralizadas”. Nele, entram serviços como empréstimos, seguros e transações de valores que são feitas por meio da blockchain e não por meio de instituições financeiras tradicionais. A taxa de administração do fundo é de 0,3% ao ano. Segundo os dados da B3, o fundo tinha 3,2 mil investidores em fevereiro. De um mês para o outro o patrimônio líquido do DEFI11 foi de R$ 28 milhões para R$ 43 milhões.
Em segundo e terceiro lugares no ranking mensal, aparecem fundos que acompanham a movimentação do ethereum, a segunda maior cripto em valor de mercado, da maior rede de blockchain do mundo.
Com retorno mensal de 49,39%, o QETH11, gerido pela QR Asset Management, conta com R$ 132 milhões de patrimônio líquido e 11,5 mil cotistas. A taxa de administração é de 0,7% ao ano. Com a medalha de bronze, o ETHE11, gerido pela Hashdex, tem taxa de administração de 0,1% ao ano. Segundo a B3, o ETF tinha 11,8 mil investidores em fevereiro e um patrimônio líquido de R$ 235 milhões, mais que o dobro do que tinha um ano atrás.
Em março, a blockchain do Ethereum, a maior em operação comercial no mundo, concluiu uma nova atualização de software que promete tornar vários custos operacionais significativamente menores. A novidade já era esperada e parece ter contribuído com o rali do ativo. Com a mudança, uma transação que custava US$ 1 agora poderá ser feita por um centavo, enquanto operações de centavos ficarão a uma fração do preço anterior.
Somente em quarto lugar na lista aparece um ETF que acompanha a movimentação do bitcoin. O BITI11, teve ganhos de 49,11% em fevereiro. Gerido pela Itaú Asset Management, o ETF tem taxa de administração 0,70%. Comparado aos primeiros da lista, este fundo tem ainda menos liquidez. No último mês, contava com pouco mais de 700 investidores e seu patrimônio líquido era de R$ 45,6 milhões.
Na quinta posição, com alta de 47,3% em fevereiro de 2024, aparece o BITH11, gerido pela Hashdex. O fundo também acompanha a variação do preço do bitcoin em dólares. A taxa de administração do produto vai de 0,10% a 0,70% ao ano. Segundo os dados da B3, em novembro, seu patrimônio líquido era de R$ 648 milhões. Já o número de investidores somava 14,5 mil.
O QBTC11 que é gerido pela QR Asset Management e acompanha a taxa de referência diária do preço em dólares americanos do bitcoin ficou em sexto lugar. De janeiro para fevereiro, o ETF teve alta de 46,7%. Segundo dados da B3 de novembro de 2023, o fundo contava com aproximadamente 38,5 mil cotistas e um patrimônio líquido de R$ 391 milhões. A taxa de administração desse fundo é de 0,75% ao ano.
Na sétima colocação está o mais líquido dos ETFS de criptomoedas, o HASH11, gerido pela Hashdex. Ele aparece ainda no ranking de fundos mais negociados do mês. O ETF acompanha a evolução do mercado geral de criptoativos e acumulou alta de 44,1% na variação mensal. Sua taxa de administração vai de 0,30% a 1,3% ao ano. Já o patrimônio líquido do fundo acumulava R$ 2,4 bilhões até fevereiro. O número de investidores, segundo dados da B3, ultrapassava os 127,5 mil cotistas no período.
Com alta de 42,9% no mês, o ETF CRPT11, gerido pela Empiricus Investimentos, ficou em oitavo lugar. O produto usa como referência um índice que reflete a performance das 20 principais criptomoedas do mundo. Segundo os dados da B3, em fevereiro o fundo contava com pouco mais de 2,4 mil investidores e seu patrimônio líquido era de R$ 105,8 milhões. Sua taxa de administração é 0,75% ao ano.
Na nona posição, mais um fundo focado em finanças descentralizadas, o QDFI11 teve ganhos de quase 41%. Entre os ativos, aquele com maior peso no índice é a Uniswap, uma bolsa descentralizada de criptoedas. A taxa de gestão é de 0,9% ao ano e o fundo conta com 2,3 mil investidores e um patrimônio de R$ 10,4 milhões.
O último lugar dos Top 10 ETFs mais rentáveis está o BLOK11, que teve valorização de 32,7% no mês passado. Gerido pela Investo, o ETF busca acompanhar a performance dos maiores e mais líquidos criptoativos classificados como “contratos inteligentes” (também chamados de “smart contracts”). O fundo tinha cerca de R$ 19 milhões de patrimônio líquido e contava com apenas 134 cotistas em novembro. A taxa de administração deste produto também é de 0,75% ao ano.
Qual a pegadinha?
Mas apesar dos altíssimos ganhos, há um problema em quase todos os ETFs de criptoativos: a liquidez, ou melhor, a falta dela. Na lista de ETFs mais negociados somente um é de criptomoedas: o HASH11, que segue o índice Nasdaq CryptoIndex.
Fora ele, o número de investidores em cada um dos outros ainda é incipiente, digamos assim. Isso dificulta as negociações, porque sem liquidez o ativo se torna mais ainda volátil, com abruptas variações de preços. Com um baixo número de investidores e transações por mês, a compra e venda de cotas se torna mais difícil, o que pode dificultar a vida de quem investiu e depois quer resgatar o dinheiro aplicado por “falta de quem compre”.
Assim como outros ativos de renda variável, a tese de investimento em criptomoedas deve ser tratada como uma diversificação na parte de longo prazo da carteira.
“No curto prazo e para grau de especulação, é preciso estar muito atento a volatilidade dos ativos. No dia em que bateu a máxima histórica pela primeira vez nesse mês, por exemplo, o Bitcoin observou um volume de venda para realização de lucro que fez o ativo cair mais de 10% durante o dia, por exemplo – algo que no Ibovespa já ativaria um circuit breaker (paralisação dos negócios por um tempo, após uma queda percentual acentuada). Há que se estar preparado para quedas de 20%, 30% nos ativos para entrar em uma posição”, diz Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital.
Para quem ainda assim quer entrar no mundo das criptomoedas, a especialista avalia que ainda há boas oportunidades por vir. Segundo ela, existem dois grandes eventos à vista e que podem ajudar em mais uma onda de valorização dos criptoativos. Um é o halving do Bitcoin, que é a desaceleração na mineração da moeda pela metade, assim menos bitcoins devem entrar no mercado. O segundo ponto seria a aprovação dos ETFs de Ether que já estão protocolados na SEC.
“O choque de oferta e demanda tende a se aprofundar nos próximos meses, de forma que ainda há espaço para altas significativas. Além disso, a tendência é a inserção dos sistemas financeiros criptografados cada vez mais profundamente na sociedade, com avanço de e-commerce e digitalização dos ativos”, avalia.
Fonte: Valor Investe