primeira razão pela qual se escolhe um determinado serviço é a facilidade quanto à usabilidade. As fintechs saíram na frente com ferramentas digitais mais avançadas. Mas os bancos também não perderam tempo: depois do Pix, quase todas as transações financeiras passaram a ser feitas por meio do pagamento instantâneo. Isto representa um avanço de empresas tradicionais desse ramo que voltaram a ganhar espaço no segmento.
Poucas pessoas, hoje em dia, usam o cheque para pagar uma conta. Apesar de parecer improvável alguém sacar um talão em que se registram os dados do consumidor e o valor do item adquirido, esta já foi uma realidade muito comum. Mesmo assim, 7% dos correntistas bancários ainda o utilizam, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O uso em relação a 2022 caiu 16,8%. O valor corresponde a 125 milhões gastos nesta modalidade transacional no Brasil em 2023.
A tecnologia alterou muitas práticas no dia a dia dos indivíduos. Agora, as companhias sofisticaram seus sistemas e basta um clique pelo celular para que todo o processo tenha início.
Mas qual é o perfil do consumidor nos dias atuais? E com qual instituição ele mais se identifica? A resposta está longe de ser qualquer uma. Com as facilidades promovidas pela digitalização, evoluíram também as preferências das pessoas pelos bancos ou fintechs com os quais estas mais se ajustam na hora de trabalhar.
Os tradicionais têm uma abordagem mais generalista, oferecem uma ampla gama de serviços financeiros (conta corrente, empréstimo, investimento e seguros). Suas operações são feitas por meio de agência física ou virtual. Já as fintechs propõem um trabalho quase de boutique aos seus usuários, fugindo do padrão, atentando-se às demandas individualmente.
Estas últimas são conhecidas por dar ênfase em tecnologia e inovação. Possuem estruturas organizacionais mais enxutas em comparação com os bancos tradicionais. Operam com equipes menores e processos simplificados, o que lhes permite tomar decisões mais rápidas diante de problemas que as instituições financeiras mais antigas encaram como paradigmas.
Cristiano Maschio, especialista em pagamentos e CEO da fintech Qesh, afirma: “O pix pode ser visto como uma tentativa das instituições tradicionais para alcançar as fintechs. Estas, durante algum tempo, estiveram à frente do mercado, devido às facilidades oferecidas aos seus clientes. Os bancos perceberam que trabalhar para facilitar processos, como o pagamento instantâneo, é uma boa saída para ganhar espaço e cooptar para si mais clientes”.
Na terceira edição do estudo trienal High-Tech Retail, lançado em 2022 pelo Grupo Croma, que apurou a influência da tecnologia no comportamento de compra do brasileiro, dados mostram que o Pix se mostra seguro e pode ser uma boa opção de pagamento fácil para quem não tem ou tem receio de utilizar cartão de crédito. 28% consideram que o Pix seja a modalidade mais segura. Em seguida, está o boleto, com 27%. Na terceira colocação, o cartão de crédito, com 24%.
Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma e idealizador do estudo, entende que o uso da tecnologia influencia na dinâmica diária dos indivíduos. E este processo não poderia ser diferente quando o assunto circunda as finanças das pessoas: “O Pix chegou para ficar. E já é considerado a forma mais segura de pagamento, comparado a meios tradicionais como boleto e cartão. Do ponto de vista dos lojistas, incluindo os MEIs,o incentivo a esse meio de pagamento tem benefícios claros, porque é sem taxas e o crédito é imediato. Para quem depende de um fluxo de caixa de curto prazo, o Pix é uma ótima solução. Do ponto de vista do comprador, que está bastante inadimplente e endividado, muitas vezes sem opção de usar o cartão, o Pix é a segurança de que ele vai gastar aquilo que pode, na medida justa. Nesse sentido, o Pix não deixa de ser, também, uma ferramenta de educação financeira. É uma maneira pela qual os bancos inovaram para lidar com as fintechs”.
O educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios, Fernando Lamounier, preconiza que a maneira pela qual o cliente se dinamiza está associada ao seu comportamento diante de ferramentas modernas e tradicionais ainda em voga: “A tecnologia mudou a experiência do usuário para sempre. Com maior praticidade, as configurações de pagamento podem ser programadas, permitindo-lhe estabelecer o horário para que seja efetuado o débito da conta. Os processos tendem a se tornar mais eficientes, o que pode resultar, inclusive, em diminuição de despesas de custos operacionais de transações e outras atividades financeiras. Os clientes tendem a ter uma experiência mais integrada com os serviços digitais, já que a automação dos emolumentos está associada a outros serviços tecnológicos, como aplicativos móveis e plataformas online”.
Processos que antes eram muito mais burocráticos como fazer uma abertura de conta, depositar cheques e aguardar compensação ou realizar investimentos passam a ser cada vez mais executados pelo celular. Há uma luta crescente destas instituições que, durante algum tempo, perceberam que ficariam para trás se não incorporassem novas tecnologias em seus sistemas. Os auto-atendimentos foram o início de tudo: substituíram-se os profissionais, como caixas, por exemplo. Esta é a maneira pela qual a concorrência no mercado aumentou. Conforme pesquisa da Febraban de tecnologia bancária 2024, realizada pela Deloitte, os bancos vão investir cerca de R$47,4 bilhões do seu faturamento em tecnologia e cibersegurança.
Boa parte desse investimento é destinado à proteção de dados e segurança digital; 100% das instituições financeiras têm essa prioridade em suas contas.“O uso da tecnologia da informação (TI) no setor financeiro virou alvo de grandes investimentos mundiais, devido às facilidades que podem trazer para inúmeros processos, tornando-os mais rápidos, principalmente nos casos de gestão financeira, redução de custos e segurança de dados. Com a evolução de sistemas e metodologias de gerenciamento de softwares e projetos, as áreas como cibersegurança e nuvem pública, serão tecnologias importantes para o fornecimento de soluções e serviços de alta qualidade no mercado financeiro”, explica Leticia Murakawa, CRO da keeggo.