O Banco Central voltou a intervir nos mercados para apoiar o real em meio a uma queda provocada por preocupações sobre a sustentabilidade da dívida do país. O banco anunciou que leiloará até US$ 3 bilhões no mercado à vista na próxima quinta-feira (26). O real se desvalorizou 1,7% na última segunda-feira (23), liderando as perdas entre as moedas de mercados emergentes.
A autoridade monetária tem atuado quase todos os dias na última semana, seja com vendas spot ou leilões de linhas de crédito, para tentar atender à alta demanda por dólares. Até agora, foram gastos cerca de US$ 17 bilhões em vendas.
Os investidores estão se desfazendo de ativos brasileiros à medida que aumentam as dúvidas sobre a capacidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de estabilizar as contas públicas. Na última semana, votou o pacote fiscal proposto pelo governo, com reduções no impacto projetado.
Empresas com resultados melhores do que o esperado também estão elevando a demanda por dólares, assim como consumidores que enviam dólares para o exterior, mesmo que em pequenas quantidades, disse o presidente do banco central, Roberto Campos Neto, durante uma coletiva na semana passada. É um movimento “atípico”, acrescentou ele.
Apenas nesta última quinta-feira, 19, o BC despejou US$ 8 bilhões no mercado de câmbio por meio de dois leilões de dólares à vista. Foi a maior intervenção da história nessa modalidade, mais do que o dobro do recorde anterior, registrado em 9 de março de 2020 (US$ 3,465 bilhões).
Também na quinta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou durante uma entrevista coletiva que a autarquia tem mapeado dia a dia o fluxo de saída de dólares do País, que está acima da média. O banqueiro central garantiu que continuaria agindo da forma que tem sido feita, quando disfuncionalidades são identificadas no mercado. As análises da instituição têm demonstrado que a demanda exige atuações no mercado à vista, mas ele não descartou o uso de outros instrumentos.
“Isso não significa que a gente não vai atuar daqui para a frente com swaps: a gente sempre olha as demandas, olha os fluxos, vê o que está mapeado na Ptax, o que é saída física, e escolhe os melhores instrumentos”, afirmou Campos Neto. “A gente tem uma liberdade entre os instrumentos.”