2023 pode ser definido como um ano no qual os três planetas que definem o rumo da economia (juros, atividade econômica e inflação) se desalinharam, sintetiza Thomas Wu, economista-chefe da gestora do Itaú.
Em evento realizado nesta terça-feira, via Youtube, Wu explica: quando os juros seguem uma direção, costumam arrastar a atividade econômica, que por sua vez empurra a inflação. Mas não foi o que ocorreu em 2023. “Os juros subiram, mas a atividade continuou forte e a inflação persistiu. Mesmo tomando um medicamento para inibir o apetite, a economia continuou com apetite alto. Nem perdeu peso”.
A consequência? Um ano de muito sobe e desce. E quando o cenário é único, quem toma decisões, como os Bancos Centrais, se tornam figuras ainda mais importantes para guiar os investimentos. Portanto, em 2023 o mercado foi ditado pelas falas de dirigentes sobre os próximos passos da política monetária.
Mas esse ciclo aparentemente acabou. Dados sobre o mercado de trabalho, inflação e confiança do consumidor e empresários vêm reforçando que o ciclo de alta dos juros encerrou, o que torna possível até mesmo pensar em cortes de juros nos Estados Unidos no terceiro trimestre. Os gestores do Itaú acreditam que haverá um pouso suave da economia americana, o que beneficia ativos de risco.
Mas ainda existem incertezas. A safra de dados positivos pode fazer com que os BCs ao redor do mundo baixem os juros de maneira precipitada, o que levará a uma piora dos indicadores mais para a frente. Ou pode haver um exagero na dose de manutenção dos juros em patamares altos, que poderá gerar uma recessão global, com impacto direto em países emergentes como o Brasil.
Diante desse cenário, estão ”cautelosamente otimistas’ para 2024. Veja as recomendações deles para investir na renda fixa e variável no ano que vem:
Renda fixa
Para Leonardo Baumert, gestor dos fundos Lumina e IPCA Action, historicamente a renda fixa brasileira performa bem em ciclos de queda da taxa Selic. “Achamos que há um espaço para ganhos na classe de ativos, mas esses retornos tendem a ser mais moderados nesse momento se comparado a ciclos anteriores”.
No segmento de crédito privado, Fayga Delbem, diretora de crédito da gestora, aponta que as empresas estão voltando a emitir títulos de dívida após a crise da Americanas e da Light, e nos últimos seis meses é possível ver os retornos de fundos de crédito voltarem ao campo positivo. Contudo, há uma demanda muito maior por ofertas conservadoras do que para o crédito com um pouco mais de risco.
“Vemos muita oportunidade em títulos privados indexados à inflação e ao setor de infraestrutura, bem como fundos de infraestrutura isentos de IR: são segmentos nos quais as taxas estão em um bom patamar”.
Renda variável
Na seara internacional, Rodrigo Koch, gestor de fundos Optimus do Itaú, vê atualmente maior valor nas empresas na bolsa com média capitalização. “Na recente alta dos mercados de ações, elas ficaram mais para trás”. Também destaca ações do setor de serviços básicos públicos e energia na Europa, onde ambos pagam bons dividendos e alguma alteração nos preços ainda pode acontecer.
Por conta de uma série de estímulos econômicos recentes anunciada pela China, que tem como objetivo fazer o país atingir a meta de 5% de crescimento, Koch também acredita que haverá uma demanda adicional por commodities que beneficia papéis do setor. “Não será um cenário explosivo, mas uma demanda adicional que terá impacto nos próximos meses
Bruno Savaris, gestor da família de fundos Hunter, aponta que o preço do petróleo está bastante controlado e que gosta de ter exposição ao setor para capturar dividendos. Já em relação ao setor de mineração ele afirma que ‘já esteve mais animado’. “O preço do minério de ferro no patamar atual parece bastante alto, ainda mais considerando os percalços pelos quais vem passando o setor imobiliário chinês”.
Tomando como ponto de partida a visão de que a economia irá arrefecer ao longo do ano que vem, Savaris aposta no setor de alimentos. “Com a inflação em colapso e competição estabilizada, vemos o setor com bons olhos no médio e longo prazo”. O executivo também destaca o setor de shoppings, cujas estimativas vêm sendo revisadas para cima. Por fim, recomenda o que chama de ‘menina dos olhos’, o setor de bens de capital. “As empresas vêm readequando o seu parque fabril e melhoraram o seu perfil de retorno”.
O gestor prefere ficar de fora do setor de varejo e de saúde: em ambos, não vê potencial de crescimento.
Fonte: Valor Investe