“O Bitcoin melhorou muito a minha vida. Com a chegada dele, nosso comércio ficou mais movimentado”, conta Francisco, dono da Barraca do Mábio, em Jericoacoara (CE). Ele é um dos diversos comerciantes passou a aceitar cripto como meio de pagamento em uma das regiões mais visitadas do Nordeste.
Francisco faz parte do projeto Praia Bitcoin Brasil, projeto que atua no município e promove criptomoedas no ceará.
Criada em 2021 pelo empreendedor Fernando Motolese e o advogado Eric Linhares de Castro, o Praia Bitcoin foi inspirada na Bitcoin Beach da cidade de El Zonte, em El Salvador.
O projeto personalizou uma maquininha de cartão para funcionar aceitando Bitcoin como pagamento usando a Lightning, uma rede que permite operações praticamente instantâneas na blockchain da cripto.
Os aparelhos também calculam o preço dos itens em satoshis (a menor fração de um Bitcoin) – algo necessário, já que uma cerveja de R$ 20, pela cotação de hoje, equivale a 0,00003131 Bitcoin. Nada prático. Pela notação fracionada fica mais fácil: a gelada custa 3.131 satoshis.
Vale ressaltar que a volatilidade do Bitcoin é um problema clássico do uso da cripto como moeda de troca. O comerciante fica exposto a um risco cambial turbinado. Se a cripto cai, digamos, 10% em uma semana (uma flutuação normal no mundo cripto), a margem de lucro em reais fica comprometida.
Bom, além da ajuda para comerciantes poderem operar com cripto, a equipe do Praia Bitcoin distribui pequenas quantias em cripto para a população, com o intuito de estimular a adoção da criptomoeda.
“Nossa ideia foi conectar o local ao global, promovendo inclusão, autonomia financeira e novas oportunidades econômicas”, diz Eric.
Nordeste: a região que mais adota cripto
Uma pesquisa recente feita pela Consensys, em parceria com a YouGov, concluiu que o Nordeste é a região com maior índice de adoção de cripto: 45,3% dos entrevistados de lá disseram já ter possuído moedas digitais. Depois vêem as regiões Sul (43,4%), Sudeste (40,7%), Norte (40,2%) e Centro-Oeste (38%).
A pesquisa foi realizada com 1.051 entrevistados entre 23 de fevereiro e 2 de maio de 2024 por meio de entrevistas online.
No Brasil como um todo, o percentual de adoção está em 43% – levemente acima da média mundial de 42%. No mundo, a liderança fica com a Nigéria: 73%.
De acordo com a Consensys, as criptomoedas têm se tornado mais populares em regiões economicamente desfavorecidas – nas quais menos pessoas têm acesso à rede bancária. Daí o destaque regional para o Nordeste, no Brasil, e para o maior país da África.
Eric concorda com o que demonstra a pesquisa: “O Nordeste lidera no uso de Bitcoin porque a exclusão bancária ainda é uma realidade para muitas pessoas na região. O Bitcoin oferece uma alternativa prática para quem não tem acesso ao sistema financeiro tradicional, além de proteger a população da desvalorização do real”.
Para o advogado, a presença de turistas amigáveis ao Bitcoin, a mentalidade empreendedora e a solidariedade comunitária da região também facilitam a adoção da tecnologia. Porém, ele acredita que há espaço para a região ter uma adoção ainda maior da criptomoeda, o que não ocorre por conta de barreiras impostas pelo governo.
Eric diz que o projeto entrou com um pedido para se tornar um Banco Comunitário de Bitcoin, mas que o governo do estado do Ceará negou sem abrir um espaço para discussão da proposta. Segundo ele, o desafio é convencer as autoridades a terem uma postura colaborativa nesse cenário, já que o modelo proposto é inovador.
Um banco comunitário é uma instituição sem fins lucrativos que visa fornecer serviços financeiros para pessoas de baixa renda de uma região. A ideia é estimular a economia local, concedendo crédito a juros baixos.
Para oferecer o crédito, bancos comunitários podem ter duas linhas, uma em reais e outra em uma moeda social, que é indexada ao real e só pode ser usada na região de atuação do banco – justamente para estimular a atividade econômica ali. No caso da Praia Bitcoin, a intenção seria adotar o Bitcoin como moeda social para micropagamentos e de educação básica, sem a oferta de empréstimos.