Warren Buffett, amplamente conhecido como o “Oráculo de Omaha”, é famoso por sua abordagem prudente e estratégica ao investir. Nos últimos meses, ele fez uma série de movimentos no mercado que sugerem uma mudança em sua estratégia de alocação de capital, especialmente no que se refere à geração de caixa. Buffett, através de sua holding Berkshire Hathaway, tem se desfeito de grandes posições em empresas que há muito tempo faziam parte de seu portfólio, como o Bank of America (BofA) e a Apple (AAPL). Esses movimentos, no entanto, não devem ser vistos apenas como um desinteresse por ações, mas sim como parte de uma estratégia maior para acumular caixa.
A recente movimentação da Berkshire Hathaway, conglomerado liderado por Warren Buffett, chamou a atenção do mercado financeiro com a venda de aproximadamente 390 milhões de ações da Apple, a gigante fabricante de iPhones, no segundo trimestre de 2024. Esse volume de ações corresponde a cerca de 49% da participação que a holding possuía na empresa, marcando um movimento significativo e estratégico por parte de Buffett.
No entanto, esse movimento não foi o primeiro sinal de que Buffett está ajustando sua carteira de investimentos em relação à Apple. No primeiro trimestre de 2024, ele já havia vendido 115 milhões de ações da empresa, mesmo diante de uma valorização de 23% nos papéis da Apple durante aquele período. Essa sequência de vendas levanta questionamentos sobre as motivações e a estratégia de Buffett, que é amplamente conhecido por sua abordagem de longo prazo e por sua aversão a mudanças frequentes em seu portfólio.
Mesmo após a venda substancial de ações, a Apple continua sendo a maior participação acionária da Berkshire Hathaway. A holding ainda mantém cerca de 400 milhões de ações da empresa, o que corresponde a um valor de mercado de aproximadamente US$ 84,2 bilhões. Isso demonstra que, apesar das vendas, Buffett ainda mantém uma confiança significativa na Apple e em seu potencial de crescimento a longo prazo.
Na reunião anual da Berkshire Hathaway realizada em maio de 2024, Buffett já havia dado indícios sobre sua nova estratégia em relação à Apple. Durante o evento, ele mencionou que vender “um pouco da Apple” este ano poderia ser benéfico para os acionistas da Berkshire a longo prazo. Uma das justificativas para essa venda antecipada seria a expectativa de um possível aumento no imposto sobre ganhos de capital pelo governo dos Estados Unidos, como parte dos esforços para reduzir o déficit fiscal crescente do país. Antecipar-se a um aumento de impostos poderia, portanto, ser uma forma de proteger os interesses dos acionistas da Berkshire.
Os números por trás dessas vendas foram revelados no balanço do segundo trimestre da Berkshire Hathaway, divulgado em 3 de agosto de 2024. Esse balanço não apenas confirmou as vendas significativas de ações da Apple, mas também revelou uma tendência mais ampla na estratégia de investimento de Buffett.
A Apple e o Bank of America não foram as únicas empresas que sofreram reduções significativas no portfólio de Warren Buffett. O segundo trimestre de 2024 marcou o sétimo trimestre consecutivo em que a Berkshire Hathaway vendeu mais ações do que comprou. Além disso, a holding recomprou apenas US$ 345 milhões em suas próprias ações, uma quantia bem menor em comparação com os US$ 2,57 bilhões de recompras no primeiro trimestre. Durante as três primeiras semanas de julho, nenhuma ação foi recomprada, o que sugere uma abordagem ainda mais cautelosa.
Embora os motivos exatos para essas vendas ainda não estejam totalmente claros, elas parecem indicar uma postura mais defensiva por parte de Buffett, que completou 93 anos em agosto de 2024. Alguns analistas, como Cathy Seifert, da CFRA Research, sugerem que a Berkshire está se tornando mais cautelosa em relação à economia dos Estados Unidos ou em relação às avaliações de mercado, que podem estar muito elevadas. Essa interpretação é reforçada pelo fato de que a Berkshire Hathaway começou a investir na Apple em 2016 e, desde então, a empresa tornou-se a maior posição individual no portfólio da holding, sendo considerada por Buffett como o “segundo negócio mais importante” depois das seguradoras.
Apesar das recentes vendas, a Berkshire Hathaway atingiu um novo recorde de caixa no segundo trimestre de 2024, acumulando US$ 276,9 bilhões, comparado aos US$ 189 bilhões do trimestre anterior. A holding vendeu um valor líquido de US$ 75,5 bilhões em ações, reforçando sua liquidez e preparando-se para futuras oportunidades de investimento.
O lucro do segundo trimestre das várias empresas que compõem a Berkshire Hathaway aumentou 15%, alcançando US$ 11,6 bilhões, ou cerca de US$ 8.073 por ação Classe A, em comparação aos US$ 10,04 bilhões do ano anterior. Grande parte desse lucro veio dos negócios de seguros da Berkshire, especialmente da Geico, cujo lucro mais do que triplicou devido ao aumento dos prêmios e à diminuição dos sinistros.
Contudo, o crescimento da receita foi modesto, aumentando apenas 1%, para US$ 93,65 bilhões, com estabilidade em negócios principais como a ferrovia BNSF e a Berkshire Hathaway Energy, e uma queda de 12% na rede de paradas de caminhões Pilot. Esses números refletem a complexidade e a diversidade dos negócios da Berkshire Hathaway, bem como a cautela que caracteriza a abordagem atual de Warren Buffett ao mercado.
*Com informações de Reuters e CNBC e Money Times.