O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, foi dramaticamente destituído na última terça-feira (25) após uma ausência prolongada da opinião pública e substituído por seu antecessor em uma surpreendente e altamente incomum mudança na liderança da política externa do país.
A mudança repentina, aprovada pelo principal órgão de decisão do parlamento da China, ocorre quando o mistério gira em torno do destino de Qin, que não é visto em público há um mês.
Qin, de 57 anos, é diplomata de carreira e assessor de confiança do líder chinês Xi Jinping. Foi nomeado ministro das Relações Exteriores em dezembro, após servir como embaixador da China em Washington.
Nenhuma razão foi dada para a saída de Qin. Seu antecessor, Wang Yi, agora voltará ao cargo, confirmaram as autoridades.
Wang, que foi ministro das Relações Exteriores de 2013 a 2022, atua como diretor do braço de relações exteriores do Partido Comunista, cargo que o torna o principal diplomata da China.
A nomeação de um ministro das Relações Exteriores por meio de votação durante uma reunião do Comitê Permanente do Congresso Nacional Popular da China é um desvio dos precedentes anteriores. E a reunião em si foi anunciada abruptamente na segunda-feira (24).
A mudança repentina ocorre no meio de um período diplomático movimentado e importante para a China, após sua saída de seu isolamento pandêmico no início deste ano e enquanto Pequim tenta consertar relações tensas com parceiros internacionais.
O desaparecimento de Qin da agenda de relações exteriores da China não foi totalmente explicado pelo ministério, que alegou “razões de saúde” quando ele faltou a uma reunião diplomática no início deste mês.
Também causou aparentes mudanças, já que Wang Yi já teve que voltar ao cargo para participar de uma reunião anual de ministros das Relações Exteriores da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) na Indonésia no início deste mês.
Wang esteve presente em uma importante reunião de representantes de assuntos de segurança do bloco BRICS nesta semana na África do Sul, antes de uma cúpula de líderes que será em Joanesburgo, no próximo mês.
Qin teve uma rápida ascensão ao cargo de ministro das Relações Exteriores e sua nomeação no ano passado — superando candidatos mais experientes — causou alguma surpresa entre os observadores da elite política chinesa, mas foi amplamente vista como um sinal da confiança de Xi no diplomata.
Somando-se à intriga da expulsão de Qin estão seus laços estreitos com Xi, que garantiu um terceiro mandato no poder no outono passado com uma nova equipe de liderança repleta de aliados leais.
“Qin Gang foi puxado sozinho na hierarquia por Xi. Qualquer problema com ele também refletirá mal em Xi — o que implica que Xi falhou em escolher a pessoa certa para o trabalho”, disse Deng Yuwen, ex-editor de um jornal do Partido Comunista que agora vive nos EUA, à CNN no início deste mês.
“Se algo incomum acontecer a um alto funcionário, as pessoas vão se perguntar se suas relações com o líder do alto escalão pioraram ou se isso é um sinal de instabilidade política”, disse Deng.
Autoridades chinesas de alto escalão desapareceram da vista do público no passado. Meses depois, o órgão fiscalizador disciplinar do Partido Comunista revelou que elas foram detidas para investigações. Esses desaparecimentos repentinos se tornaram uma característica comum na campanha anticorrupção de Xi.