Os fundos de investimentos com foco em ESG e clima são uma das mais importantes fontes de recursos para o combate ao aquecimento do planeta. Segundo relatório do Morgan Stanley Institute for Sustainable Investing, em junho de 2023, a indústria global de fundos sustentáveis atingiu US$ 3,12 trilhões, o equivalente a 7,9% do total de dinheiro sob gestão no mundo. É um crescimento em relação a 2022, quando somavam US$ 2,79 trilhão (7,6% do total).
No Brasil, seu desenvolvimento, porém, segue ainda a passos lentos. Existem hoje no país cerca de R$ 10,5 bilhões alocados em 59 fundos de investimento sustentável (IS) e 30 fundos que integram em suas estratégias fatores ESG, de acordo com dados da Anbima, associação do mercado de capitais, até novembro. O volume é 16% maior do que no fim de 2022, mas ainda assim ínfimo perto do tamanho da indústria nacional de fundos, de R$ 8,27 trilhões.
“Tem uma parcela nichada de investidores que empurra mais forte a agenda. Mas ainda é preciso outros agentes importantes, como seguradoras e fundos de pensão, que são investidores institucionais de longo prazo, exatamente o perfil deste tipo de investimento. Não é oportunista, é de longo prazo”, comenta Carlos Takahashi, vice-presidente da Anbima.
Apesar de, na COP28 o financiamento para redução de emissões ter se concentrado nos compromissos públicos anunciados por governos e bancos de fomento, o volume necessário de dinheiro – estimado em US$ 125 trilhões até 2050, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA) – deixa claro que será preciso engajar qualquer detentor de capital.
“Voltamos da COP com a sensação clara de que não há sucesso na luta contra o desmatamento e as mudanças climáticas sem o compromisso integral do mercado de capitais”, afirma José Pugas, sócio da JGP e responsável por ESG e estratégias de crédito sustentável da casa. Ele se refere não apenas aos fundos de equity, mas também empréstimos e financiamentos a empresas e governos, entre eles, os títulos de dívida corporativa com rótulos sustentáveis.
Segundo dados da consultoria NINT, até 15 de dezembro de 2023 foram feitas 45 operações de dívida ESG, sendo 10 empréstimos bancários e 35 emissões corporativas via mercado de capitais. No total, a captação foi de R$ 49 bilhões. Porém, sozinha, a emissão do título sustentável do Tesouro Nacional, em novembro, a primeira soberana deste tipo do Brasil, responde por US$ 2 bilhões desse montante (quase R$ 5 bilhões). Em comparação a 2022, quando 101 operações levantaram R$ 64 bilhões, o segmento arrefeceu este ano, acompanhando o movimento do mercado de dívida corporativa, que sofreu com a crise de confiança com as perdas com a Americanas e Light e o impacto da taxa de juros alta.
“Nesse momento, todos instrumentos que canalizem capital são bem-vindos. No entanto, instrumentos tradicionais atendem players tradicionais em indústrias tradicionais e o que estamos vendo é um momento disruptivo de inovação, seja na economia real seja no mercado financeiro”, diz Pugas, da JGP. A gestora tem cerca de R$ 1 bilhão no pipeline de projetos e quer promover inovação financeira para direcionar recursos para os “ciclos de transição”, como transição proteica, transição regenerativa, transição biológica e transição energética.
A JGP foi uma das poucas do Brasil a participar ativamente da COP28 e a divulgar suas iniciativas, com destaque para a captação de R$ 150 milhões via CRAS (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) para a Capal, cooperativa de produtores rurais com mais de 3,7 mil cooperados em São Paulo e Paraná.
Maurício Colombari, sócio da consultoria PwC, que também esteve na COP28, não vê com preocupação a baixa participação do setor privado. “Os países trabalham para viabilizar as iniciativas e certamente precisarão do setor financeiro e de mercado de capitais para tirar os planos do papel, operacionalizar a distribuição e alocação dos recursos”, diz. Ele destaca o papel do Brasil em prover soluções de energia renovável, como biocombustíveis e hidrogênio verde.
Para Thomas Hohne-Sparborth, líder de pesquisa em sustentabilidade do banco suíço Lombard Odier, o Brasil tem outras potencialidades a serem destravadas. “As vastas florestas e outros capitais naturais do Brasil, bem como a sua posição como um dos principais centros agrícolas, permitem assumir a liderança no desenvolvimento da natureza numa classe de ativos”, diz.
Luiza Dias Lopes Vasconcellos, líder de negócios ESG no Itaú BBA, vê como positivo o cenário para o mercado de dívida ESG para o próximo ano. Dentre os fatores que contribuem estão a priorização da economia verde pelo governo, sinalizada com a emissão do título sustentável, e a criação de uma taxonomia verde (em andamento). “Agora se sabe que a agenda de finanças climáticas é central na pauta do Brasil e o tema vai demandar mais capex [investimentos] das companhias para descarbonizar. É natural que tenhamos operações e que elas se intensifiquem”, diz.
Fonte: Valor Econômico