Nas últimas décadas, o Brasil experimentou uma transformação significativa no reconhecimento racial. O Censo do IBGE revela essa mudança: em 2000, apenas 6,2% da população se considerava preta, enquanto 38,5% se autodeclarava parda. Duas décadas depois, em 2022, essa realidade se alterou, com 10,2% de pretos e 45,3% de pardos, o que representa uma mudança na percepção da sua identidade racial.
É nesse contexto de renovação e empoderamento que Adriana Barbosa, diretora-executiva do Preta Hub, decide reimaginar o projeto. O ecossistema de valorização da economia negra foi criado em 2002 para resolver problemas comuns entre os empreendedores negros da economia criativa.
Ao longo dos anos, o Preta Hub se consolidou a partir da tecnologia social que uniu o trabalho nas áreas de inteligência de dados, capacitação e investimento no afroempreendedorismo.
“O que foi construído há 20 anos precisa ser compatível com hoje”, afirma. Nesta semana, a empreendedora anunciou um novo modelo de negócios, que inclui até mesmo a reformulação do nome. Agora, toda a marca passa a se chamar Feira Preta. Além disso, uma nova logotipo e slogan — Pertencer é Poder — acompanham a fase. Os novos planos ainda incluem a internacionalização e a expansão da atuação para novos países e continentes.
Barbosa explica que o objetivo é integrar os países da diáspora africana em um mesmo objetivo: a promoção de uma economia negra. Por isso, a Feira Preta agora dialoga com países africanos como África do Sul, Burkina Faso e negocia formas de atuar na Nigéria. “Estamos olhando a diáspora como uma sexta região do Brasil, exemplo da dimensão da influência africana no mundo”, explica.
Além dessas nações, locais na América do Sul e Latina também já estão sob a nova ótica de trabalho da empresa, como Peru, Colômbia, Panamá e Argentina. Em outubro, a Feira Preta lançou uma pesquisa sobre o perfil do afroempreendedor nesses países, unindo a área de dados para entender a realidade econômica dos locais. “O que acontece agora é resultado de duas décadas de trabalho no Brasil. Miramos para o futuro sem deixar de olhar para o que foi construído no passado”, conta.
Rebranding e expansão
Para Adriana, o próximo passo é alcançar a Europa e Estados Unidos. “Esse é o nosso norte, nossa missão e visão para os próximos anos. Há 20 anos, ajudamos a construir mercado onde negros pudessem se reconhecer”, explica. Segundo a diretora, a população negra no Brasil passou a consumir de forma mais política, como em um movimento: “se não me vejo, não compro”.
Hoje, a forma de atuação da Feira Preta é replicada em outros lugares do Brasil, unindo a economia criativa e negócios de impacto com a valorização do trabalho negro. “O que queremos é levar a experiência positiva que tivemos aqui para outros países da América Latina, onde o reconhecimento racial não andou como aqui”, explica.
Em 2024, a Feira Preta realizou 17 edições do Afrolab, programas de capacitação e apoio a empreendedores negros de áreas criativas no Brasil, América Latina e Estados Unidos. Ao todo, 542 pessoas participaram dos projetos, que contaram com mais de R$ 150 mil investidos.
O Festival Feira Preta, que celebra a cultura negra, contou com mais de 60 mil participantes presenciais e outros 5 mil no digital. As vendas de produtos e serviços arrecadaram R$ 1,5 milhões para empreendedores negros e indígenas. “Consumo é renda, empregabilidade e economia. Acreditamos nisso”, conta Barbosa.