A agitação no cenário externo causou cautela entre os analistas de mercado das economias emergentes e elevou a incerteza sobre a economia do Brasil ao nível mais alto em quase dois anos. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), divulgados na quinta-feira (31), o Indicador de Incerteza Econômica de agosto (IIE-Br) aumentou 5 pontos, para 108,5, após quatro quedas consecutivas.
Foi o aumento mais forte desde setembro de 2021 (11,8 pontos), que resultou de dúvidas sobre as economias dos Estados Unidos, Argentina e China, segundo Anna Carolina Gouveia, economista da fundação responsável pelo indicador. “Após chegar ao menor nível desde 2017, a incerteza econômica sobe em agosto, motivada, principalmente, por ruídos externos”, destacou.
Entre as incertezas econômicas nos países citados pela economista, Anna Carolina ressalta a notícia de uma possível recessão nos Estados Unidos. Embora ainda apresente flexibilidade nos mercados de trabalho e de consumo, o país ainda contém esse risco. Outro ponto sublinhado foi a repentina cessão de divulgação de dados sobre taxa de desemprego entre os jovens na China, em agosto, já que o país é uma chave importante da economia global. Isto alertou os mercados internacionais para a desconfiança nos indicadores macroeconômicos do país, criando mais confusão no cenário internacional. Além disso, a crise na Argentina, também está sendo cuidadosamente observada por investidores e analistas de mercado, frisou Anna Carolina.
Tais fatores externos foram cruciais para influenciar a opinião dos analistas sobre o Brasil, devido à forte parceria comercial do Brasil com os três países, especialmente a China. Gouveia ainda reforçou que a maior cautela do mercado em relação à economia brasileira que o IIE-Br capturou deveu-se às notícias e não às previsões pessimistas para o Brasil.
Isso pode ser observado na evolução dos dois componentes utilizados para calcular o indicador de incerteza da FGV. A componente de comunicação social aumentou 6,6 pontos para 108,5 pontos em agosto, o que teve um efeito positivo na evolução do índice geral em 5,8 pontos. No entanto, o componente de Expectativas, que mede a dispersão das previsões dos especialistas das variáveis macroeconômicas, caiu 3,4 pontos, para 105,2 pontos, o nível mais baixo desde fevereiro deste ano (102,3 pontos), que teve um impacto negativo de 0,8 pontos.
A economista foi cautelosa a ser questionada se o indicador de incerteza poderia ter um aumento contínuo, e destacou que é possível aumento do índice caso o cenário externo piore. E, internamente, se o mercado tiver novas dúvidas sobre a reforma tributária do Brasil, esse indicador poderá aumentar a pontuação. Todavia, ela reiterou a volatilidade do índice, o que dificulta a previsão. “Será preciso aguardar o desenrolar dos próximos meses para entender se a alta desse mês se tornará uma tendência de alta da incerteza e levar o indicador de volta aos níveis insatisfatórios, superiores aos 110 pontos, observados nos últimos anos”, finaliza Gouveia.