No mundo dos negócios, a função primordial de uma empresa sempre foi vista como a busca pelo lucro. A maximização dos ganhos financeiros tem sido considerada uma métrica fundamental para avaliar o sucesso e a sustentabilidade de uma organização.
No entanto, nas últimas décadas, surgiram críticas a essa visão unicamente centrada no lucro, argumentando que as empresas podem e devem assumir uma postura mais responsável em relação aos impactos sociais e ambientais que suas atividades podem gerar.
Esse debate ganha força com o crescimento das políticas de ESG (Environmental, Social and Governance), que defendem a incorporação de critérios ambientais, sociais e de governança nas práticas empresariais. Neste artigo, trato tanto do que justifica a função da empresa em lucrar, quanto de contrapontos em relação às políticas de ESG.
Paradigma da maximização do lucro
A teoria predominante, conhecida como o paradigma da maximização do lucro, argumenta que a principal responsabilidade de uma empresa é gerar retornos financeiros para seus proprietários e/ou acionistas.
Essa visão tem suas raízes na teoria econômica tradicional, que enfatiza a busca pela eficiência econômica e a alocação de recursos escassos. Nessa perspectiva, as empresas devem focar em suas operações e estratégias com o objetivo de maximizar os lucros, o que por sua vez beneficia a economia como um todo.
Quem critica essa visão argumenta que a busca cega pelo lucro pode levar a externalidades negativas significativas para a economia, para a sociedade e, em alguns casos, para a própria empresa, como danos ambientais, desigualdade social e más práticas de governança corporativa.
É nesse contexto que surgem as políticas de ESG, que propõem uma abordagem mais holística para as empresas, incorporando preocupações ambientais, sociais e de governança em suas estratégias de negócios.
Warren Buffett na contramão do ESG
Um exemplo dessa contramão da onda ESG está na ação do megainvestidor – também influenciador nessa área – Warren Buffett, que neste ano dobra a aposta em petróleo e gás. A Berkshire Hathaway tem aproveitado a queda das commodities para aumentar investimentos em papéis de petróleo e gás favoritos do bilionário.
Nesse caso, fatores como preocupações persistentes com o desempenho ambiental, social e de governança do setor, baixos retornos antes da pandemia e o risco de uma queda na demanda por combustíveis fósseis nas próximas décadas não os afastou desse tipo de investimento.
A Morningstar verificou, em março deste ano, que os fundos anti-ESG somavam US$ 2,1 bilhões de ativos sob gestão, enquanto os fundos sustentáveis têm ativos mais de mil vezes maiores, mas esse montante é sete vezes superior ao de um ano atrás. Das 27 ETFs que investem em produtos controversos – armas, tabaco e bebidas – 20 surgiram só em 2022.
São os valores em cena para dar ou retirar “licença social”. Em 1992, o economista e marqueteiro James Carville criou o slogan “É a economia, estúpido!”, que vamos parafrasear, questionando: “São os valores, estúpido?” Em vez de escolhas meramente monetárias, emergem selos e licenças sociais para organizações serem identificadas como progressistas ou conservadoras, dando lucro ou não. É um momento de valores.
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