A inflação é frequentemente discutida no noticiário econômico brasileiro. É uma característica constante na economia do país e, frequentemente, se manifesta no aumento dos preços. O que não costumamos ouvir com tanta frequência assim é a palavra “deflação”.
Oposto de inflação, a deflação ocorre quando os preços passam a abaixar continuamente e a longa duração. Uma vasta quantidade de produtos e serviços devem ser afetados pela queda de valores para que seja considerado um processo deflacionário.
À primeira vista, isso pode parecer algo positivo e desejável para qualquer pessoa encarregada da gestão financeira de um país. No entanto, embora possa parecer favorável, a deflação prolongada pode representar um grande perigo para a economia de uma nação. Um exemplo histórico disso pode ser observado ao analisar os efeitos da queda da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. Com a crise que se abateu sobre os Estados Unidos naquela época, as empresas foram forçadas a reduzir os preços de seus produtos e serviços, levando o mercado a entrar em recessão.
A queda de preços, sem perspectiva de recuperação, teve um impacto direto na perda de empregos e na redução da renda das pessoas, mergulhando o país em uma das maiores crises econômicas da história. Dessa forma, podemos afirmar que a análise dos preços dos produtos atua como um indicador crucial para a saúde da economia. O ideal é que ocorra um aumento controlado em intervalos regulares, elevando também outros indicadores, como a renda da população, a oferta de empregos e o consumo.
Quando, ao contrário, há um movimento contracionista prolongado, isso pode indicar a presença de problemas na economia do país, os quais devem ser abordados para combater as causas da deflação.
Já a redução do ritmo da inflação, ou seja, a diminuição do índice de um mês para outro, mas que ainda mantém um valor positivo, é chamada de desinflação. Na desinflação, os preços ainda estão aumentando, porém em um ritmo mais lento, enquanto na deflação, os preços estão efetivamente diminuindo. É importante distinguir entre esses termos, pois eles têm implicações diferentes para a economia e para o planejamento financeiro.
Como é calculada?
A deflação é calculada da mesma forma que a inflação, e no Brasil existem diversos índices que monitoram as variações de preços, sendo o principal deles o IPCA, que é divulgado mensalmente pelo IBGE.
Com base no IPCA, o Banco Central define a política monetária do país. No nosso país, seguimos o regime de metas de inflação, em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece uma meta para o IPCA a ser alcançada. Para atingir essa meta, o Banco Central, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), ajusta a taxa básica de juros, conhecida como Selic.
O cálculo do IPCA é realizado pelo IBGE, que avalia o custo de uma cesta de itens que reflete os padrões de consumo das famílias brasileiras com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. Essa cesta inclui produtos e serviços nas áreas de alimentação, habitação, vestuário, transporte, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação. Cada um desses grupos recebe uma ponderação diferente, dependendo de sua relevância no consumo das famílias, o que influencia o indicador.
Causas da deflação
A principal causa da deflação está relacionada ao aumento da oferta de produtos e à falta de demanda por esses produtos. Isso ocorre quando há mais produtos disponíveis no mercado do que pessoas dispostas a comprá-los.
Um exemplo prático dessa situação pode ser ilustrado ao imaginar um aumento na produção de tomates, mas a população não demonstra interesse em comprar tomates nas feiras, mercados e supermercados que vendem produtos relacionados.
O resultado dessa abundância de oferta e escassez de demanda é a redução dos preços, na tentativa de estimular o consumo. À primeira vista, essa diminuição nos preços dos tomates pode parecer benéfica para o consumidor, mas quando persiste por muito tempo, pode ter impactos negativos na indústria e, eventualmente, em toda a economia. Isso ocorre porque a queda constante de preços pode prejudicar os negócios, levar ao desemprego e afetar a economia do país.
Outro fator que também pode desencadear a deflação é a diminuição da quantidade de moeda em circulação, já que menos dinheiro em circulação significa menos pessoas fazendo compras, o que, por sua vez, pode desencorajar ainda mais o consumo e afetar a produção, o que leva a uma queda nos preços e problemas econômicos.
A deflação é um índice positivo ou negativo para a economia?
Inicialmente, pode parecer que preços mais baixos são sempre vantajosos, e de fato são quando as reduções de preço são temporárias. No entanto, uma queda generalizada e contínua de preços ao longo do tempo é prejudicial. Isso indica que o poder de compra das pessoas está em declínio, levando os comerciantes e prestadores de serviços a diminuir seus lucros na tentativa de estimular a demanda.
Essa dinâmica pode desencadear um ciclo vicioso. Com a tendência de queda de preços, as pessoas adiam suas compras na esperança de obter preços ainda mais baixos no futuro. Essa postura alimenta a deflação, já que os comerciantes são compelidos a reduzir ainda mais os preços. Quando os comerciantes não conseguem vender seus produtos, eles diminuem ou suspendem pedidos de novos produtos. Isso, por sua vez, leva à redução ou paralisação da produção na indústria. Sem perspectivas de vendas, as empresas não investem. Esse cenário resulta em demissões e até mesmo na falência de negócios.
A deflação sinaliza baixo crescimento econômico ou estagnação, contribuindo para o aumento do desemprego, a queda do poder de compra da população e a retração da atividade econômica como um todo. É importante lembrar que as mudanças nos preços podem ocorrer não apenas devido às flutuações na demanda, mas também devido a variações na oferta e em seus custos.
Qual a diferença entre inflação, deflação e desinflação?
A inflação refere-se ao aumento contínuo e generalizado dos preços de produtos e serviços no mercado. A deflação é o oposto da inflação, caracterizada pela queda dos preços de produtos e serviços. Já a desinflação significa a redução da inflação, em que os preços ainda aumentam, mas a uma taxa mais baixa do que anteriormente.
Como proteger investimentos da deflação?
É importante possuir uma reserva financeira e considerar opções de investimento que possibilitem o crescimento do seu dinheiro. Um exemplo são os títulos de renda fixa, que podem oferecer retornos mais atrativos, permitindo que seu dinheiro se valorize de forma mais eficaz, o que pode assegurar um futuro financeiro mais seguro e tranquilo.
O Brasil já passou por deflação?
Sim! Os dados de um índice de custo de vida para o Rio de Janeiro, disponíveis no Ipeadata, revelam que houve um período de deflação entre 1928 e 1933, com exceção do ano de 1932. Durante esse período, o índice acumulou uma queda de 15%. Esse período coincide com eventos significativos, incluindo o colapso da Bolsa de Nova York em 1929, a fase mais intensa da Grande Depressão nos Estados Unidos, a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas à presidência, marcando o fim da República Velha.
Inflação ou deflação: qual é pior?
Tanto um período prolongado de deflação quanto uma alta inflação são prejudiciais. Uma inflação elevada mina o poder de compra das pessoas, tornando o salário que cobre as despesas de um mês insuficiente para fazer o mesmo no mês seguinte. Isso gera incerteza em relação à economia, dificultando o planejamento e potencialmente desestruturando o sistema financeiro. Já a deflação prolongada pode criar um ciclo negativo, um indicativo de uma economia estagnada ou em recessão, o que resulta no fechamento de empresas, aumento do desemprego, redução da renda da população e agravamento da desigualdade.