A inflação é um dos conceitos econômicos mais frequentemente discutidos no cotidiano. Além disso, seus impactos são prontamente perceptíveis para a população em geral, embora muitas pessoas não tenham uma compreensão completa de seu funcionamento e dos fatores que a influenciam, como a valorização do dólar.
A inflação é o indicador que reflete o aumento dos preços de bens e serviços. No entanto, é crucial notar que esse conceito fundamental não se refere apenas ao aumento de um produto ou serviço específico, mas sim a uma média dos preços da maioria dos produtos e serviços consumidos durante um determinado período.
A lista de bens e serviços incluídos nesse cálculo é conhecida como cesta de produtos. Cada índice de inflação utiliza uma cesta diferente para calcular a inflação. Além disso, cada índice tem um foco específico, permitindo análises gerais dos preços da economia ou análises setoriais mais detalhadas. A composição da cesta de produtos pode ser ajustada de acordo com as mudanças nos hábitos de consumo da população.
É por conta desse índice que você tem aquela sensação de quando vai ao supermercado e percebe que está gastando mais do que esperava.
Além disso, o cálculo da inflação é ponderado com base na importância de cada item no orçamento das famílias. Em outras palavras, os índices não consideram apenas a variação absoluta dos preços de cada item, mas também a relevância de cada item no consumo da população em questão.
A melhor forma de perceber o resultado da inflação é comparando preços atuais a preços antigos dos mais variados produtos, desde itens de supermercado a mensalidade de uma faculdade. Sua causa pode vir de diversos fatores, entre eles estão o aumento na demanda, nos custos de produção, inércia inflacionária e expectativas de inflação, e aumento de emissão de moeda.
Cálculo da inflação
A determinação da taxa de inflação se baseia na análise de índices de preços, os quais registram as flutuações nos valores de um conjunto de produtos e serviços ao longo do tempo. No Brasil, o indicador de referência é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O processo de cálculo do IPCA envolve a coleta mensal de preços em diversos estabelecimentos comerciais, abrangendo distintas regiões do país. Itens como alimentação, habitação, transporte, saúde, educação e outros são levados em consideração. Com base nesses dados, é determinada a média da variação percentual dos preços em relação ao mês anterior.
Além do IPCA, existem outros índices de preços relevantes no Brasil. O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) monitora as variações de preços no mercado atacadista, enquanto o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) registra as flutuações nos preços dos produtos agropecuários e industriais no âmbito do atacado.
Em outras nações, são adotados índices de preços distintos para medir a inflação. Na Espanha, por exemplo, utiliza-se o Índice de Preços ao Consumidor (IPC); nos Estados Unidos, o Consumer Price Index (CPI); e no Reino Unido, também o Consumer Price Index (CPI).
Causas e tipos da inflação
A inflação é um fenômeno econômico complexo causado por múltiplos fatores. Podemos agrupar essas causas nestas categorias:
- Aumento na Demanda: Acontece quando há um rápido crescimento econômico sem que políticas públicas adequadas impulsionem a massa de salários, pressionando o preço dos produtos. Quando a demanda por bens e serviços cresce significativamente, a ponto de ultrapassar a capacidade de produção da economia, os preços tendem a subir. Isso ocorre frequentemente durante períodos de expansão econômica, quando consumidores e empresas estão gastando mais. O excesso de demanda pode criar pressões inflacionárias.
- Inflação de oferta: Os valores se elevam devido ao aumento de gastos em insumos importantes como petróleo, água e energia elétrica, por gerar novas tarifas energéticas. A inflação também pode ser desencadeada por aumentos nos custos de produção, como salários mais altos, preços das matérias-primas em ascensão ou custos de transporte em alta. Esses custos adicionais frequentemente se refletem nos preços dos produtos finais, levando à inflação de custos.
- Inflação inercial: A origem da palavra “inercial” deriva de “inércia”, que significa imobilidade. No entanto, a inflação inercial não se caracteriza por ser completamente estável. Na verdade, seu comportamento por uma aceleração moderada, porém contínua. Em outras palavras, trata-se de um tipo de inflação que exibe taxas crescentes, sem, no entanto, se tornar explosiva. A expectativa de que os preços continuarão a subir pode influenciar o comportamento econômico. Se as pessoas e as empresas esperam inflação, isso pode levar a aumentos de preços, mesmo na ausência de pressões reais de demanda ou custos. A inércia inflacionária ocorre quando a inflação anterior afeta a inflação atual.
- Inflação monetária: A emissão excessiva de moeda na economia, frequentemente resultado de políticas monetárias expansionistas, pode contribuir para a inflação. Quando há mais dinheiro em circulação do que bens e serviços disponíveis, os preços podem aumentar, ocasionando a inflação monetária. O dinheiro é utilizado como meio de pagamento por produtos e serviços, e quando há essa quantidade maior de dinheiro em circulação do que produtos e serviços disponíveis, isso leva a um aumento nos preços como mecanismo de reequilíbrio econômico.
- Inflação estrutural: Ligada à inflação de oferta, ocorre quando a estrutura necessária para produzir está estabilizada e os preços irão subir. Acontece devido a pressão sindical, valores acima do salário mínimo atual, entre outros. Economistas se referem à inflação estrutural como o aumento generalizado dos preços causado por fragilidades na infraestrutura e na cadeia de produção. Nesse cenário, a ineficiência e a falta de capacidade da infraestrutura elevam os custos de produção, o que, por sua vez, resulta em preços mais altos para os consumidores finais. Além disso, quando as mercadorias são mais voltadas para o mercado internacional do que para o mercado doméstico, pode haver escassez de alguns produtos no mercado interno.
- Hiperinflação: Quando os preços chegam a um ponto em que o governo sequer consegue controlar, por estar muito alto. Nesse caso, reajustes estão acontecendo a todo e qualquer momento, podendo chegar acima de 50% ao ano. A hiperinflação ocorre quando a inflação descontrolada atinge patamares tão extremos que os preços são reajustados em dezenas ou até centenas de porcentagem em uma única vez. Em um cenário como esse, fatores psicológicos, de produção e econômicos desempenham um papel muito forte e se aceleram rapidamente.
- Inflação espiral: Acontece quando há um aumento no preço das matérias-primas, que podem causar inflação de oferta. Para recuperar o poder de compra do proletariado, é necessário um reajuste salarial. A inflação espiral ocorre quando há um ciclo em que os trabalhadores recebem aumentos salariais para compensar a perda de poder de compra causada pela inflação geral da economia. Com mais dinheiro disponível, eles aumentam seus gastos. O aumento nos gastos resulta em mais dinheiro circulando na economia, e os produtores, enfrentando custos mais altos com a mão de obra devido aos aumentos salariais, elevam os preços das mercadorias, alimentando assim a inflação.
- Inflação Global: A inflação global ocorre quando várias das principais economias do mundo experimentam simultaneamente um aumento em seus índices de inflação, indicando que os preços estão subindo globalmente. Esse fenômeno tende a ser mais comum com o avanço da globalização e em situações como o aumento dos preços das commodities.
- Inflação reprimida: A inflação reprimida ocorre quando os governos implementam políticas de congelamento de preços ou estabelecem preços máximos para produtos e serviços, o que resulta em escassez. Com poucos incentivos e margens de lucro para os produtores, eles deixam de fornecer esses produtos, levando à escassez. Com menos produtos disponíveis e uma demanda constante, os preços tendem a subir. A inflação reprimida muitas vezes se manifesta quando o governo remove os controles de preços, resultando em um aumento repentino da inflação.
- Estagflação: Une a estagnação e a inflação. Por conta de fatores que pressionam a economia, apesar de o crescimento econômico estar baixo ou nulo, os preços continuam se elevando. A estagflação é um conceito econômico que descreve uma situação em que uma economia experimenta crescimento econômico estagnado e inflação alta. Ou seja, a economia não cresce, mas os preços continuam a subir, mesmo que as famílias estejam consumindo menos. Isso ocorre porque os preços podem subir devido a diversos fatores, como aumento nos preços das commodities, crises hídricas, valorização do dólar e fatores psicológicos relacionados à inflação, independentemente da pressão do consumo.
Índices de Inflação no Brasil
No Brasil, existem vários índices de inflação que desempenham um papel fundamental na avaliação e no monitoramento da variação de preços na economia. Esses índices são essenciais para entendermos como a inflação afeta o poder de compra dos consumidores e o funcionamento dos mercados. Vamos analisar alguns desses índices:
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo)
O IPCA é um dos índices de inflação mais importantes do país. Ele calcula a variação de preços dos bens e serviços que fazem parte da cesta de consumo das famílias brasileiras com renda mensal entre um e 40 salários mínimos. Cada item e serviço nessa cesta recebe um peso específico, refletindo o consumo médio da população. O IPCA desempenha um papel crucial ao medir como o poder de compra da moeda evolui ao longo do tempo. É importante destacar que essa cesta de produtos e serviços não é estática e é ajustada regularmente. Por exemplo, ela inclui itens básicos como arroz e feijão, mas também abrange produtos e serviços relativamente novos, como serviços de streaming e transporte por aplicativo.
Além disso, a variação dos preços não é uniforme em todo o país. Diferentes regiões podem experimentar variações de preços distintas. Portanto, a localidade também é considerada no cálculo do IPCA. Atualmente, os dados são coletados em 16 capitais e regiões metropolitanas, com cada uma delas contribuindo com um peso diferente no resultado final do índice.
INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)
Enquanto o IPCA é focado em famílias com renda entre um e 40 salários mínimos, o INPC tem como objetivo medir a variação de preços dos produtos e serviços para famílias com renda de até cinco salários mínimos. Isso faz do INPC um indicador relevante para as famílias de renda mais baixa, que são mais sensíveis às mudanças nos preços de itens essenciais. Além de ser um indicador importante para aferir o impacto da inflação sobre essas famílias, o INPC também é usado como referência para o reajuste do salário mínimo.
IGP (Índice Geral de Preços)
O IGP é calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e tem um propósito específico. Ele registra a variação dos preços desde a matéria-prima utilizada na produção agrícola e industrial até a transformação desses produtos em bens e serviços que serão adquiridos pelos consumidores finais. O IGP não se concentra no consumidor final, mas sim nos setores atacadista e varejista. Para calcular o valor desse índice, são considerados três outros índices: 60% do valor do IGP é composto pelo IPA (Índice de Preços no Atacado), 30% pelo INPC e 10% pelo INCC (Índice Nacional de Custos da Construção). Além do IGP, ele dá origem a outros índices, como o IGP-DI, o IGP-10 e o IGP-M. O IGP-DI, por exemplo, é responsável por corrigir os preços de telefonia.
IGP-10
O IGP-10 mede a evolução dos preços em um período que vai do dia 11 do mês anterior ao dia 10 do mês corrente.
IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado)
O IGP-M coleta dados do dia 21 do mês anterior ao dia 20 do mês atual. Além de fornecer informações sobre a economia, ele pode influenciar diretamente o bolso dos consumidores que alugam imóveis, pois é frequentemente usado como base para o reajuste de tarifas e contratos de aluguel, tanto residenciais quanto comerciais.
Outros Indicadores de Preços
Além dos mencionados, existem outros indicadores de preços que desempenham papéis específicos na medição da inflação. O IPA (Índice de Preços no Atacado), também medido pela FGV, estima o ritmo dos preços no comércio atacadista e nas transações entre empresas, que ocorrem antes da venda no varejo. O IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal) é semelhante ao INPC, mas mede preços de itens como alimentos, produtos de limpeza, higiene e serviços a cada 10 dias. Há também o IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor), calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que mede a variação de preços dos produtos consumidos na cidade de São Paulo e reflete o custo de vida médio das famílias com renda entre 1 e 10 salários mínimos.
Consequências da Inflação
A inflação tem várias consequências na economia e na vida das pessoas. A principal delas é a perda do poder de compra à medida que os preços das mercadorias aumentam e a moeda se desvaloriza. Isso afeta diretamente o bolso dos consumidores. Além disso, a inflação também impacta os investimentos. É importante considerar a inflação ao avaliar a rentabilidade real de investimentos, pois ela reduz o poder de compra do dinheiro investido. Se a taxa de retorno de um investimento for menor que a taxa de inflação, o investidor efetivamente perde dinheiro.
Taxa de inflação atual
O índice mais utilizado para medir a inflação, o IPCA, é calculado mensalmente pelo IBGE. Para avaliar a variação desse índice ao longo de um período maior do que um mês, é importante considerar os juros compostos e a evolução que o índice teve nesse intervalo de tempo.
De acordo com as informações divulgadas pelo IBGE, abaixo estão os valores do IPCA mês a mês e o acumulado nos últimos 12 meses em 2021:
Mês | Índice do mês | Índice acumulado em 12 meses |
Janeiro | 0,25% | 4,56% |
Fevereiro | 0,86% | 5,19% |
Março | 0,93% | 6,09% |
Abril | 0,31% | 6,75% |
Maio | 0,83% | 8,05% |
Junho | 0,53% | 8,35% |
Julho | 0,96% | 8,99% |
Agosto | 0,87% | 9,68 % |
Setembro | 1,16% | 10,25% |
Outubro | 1,25% | 10,67% |
Como a inflação afeta a população?
A inflação é a representação do aumento do custo de vida, resultando na consequente redução do poder de compra da moeda e afetando diretamente no consumo da população. A inflação também exerce influência sobre valores de itens de maior porte, como aluguel e veículos, bem como sobre compromissos de longo prazo, como as mensalidades de faculdades ou pós-graduações. Esse aumento nos preços não é necessariamente negativo ou prejudicial para os consumidores, especialmente quando é controlado, ocorre gradualmente ao longo do tempo e acompanha ajustes nos salários mínimos. No entanto, pode causar inconvenientes tanto para os consumidores quanto para a economia de um país quando aumenta a uma velocidade que não pode ser absorvida adequadamente.
A inflação tem influência nos investimentos?
Quando um investimento não está vinculado à inflação, seu retorno tende a diminuir à medida que a inflação aumenta. Por exemplo, certificados de depósito bancário (CDBs) geralmente rendem com base em taxas vinculadas à Selic ou em valores predefinidos. Portanto, além de entender a rentabilidade, é necessário considerar o impacto do IPCA para calcular a rentabilidade real. Um investimento com uma taxa de juros de 7%, por exemplo, na verdade não gera esse retorno completo. Depois de descontar a inflação, os ganhos reais são menores. Assim, a rentabilidade real se refere à quantia efetiva que você receberá no final, após levar em conta a inflação e possíveis encargos, como o Imposto de Renda (IR). Em algumas situações, é possível que o ganho nominal seja inferior à inflação, resultando na perda de poder de compra.
Como posso me proteger da inflação?
A inflação afeta diretamente os consumidores, no entanto, existe a possibilidade de proteger pelo menos uma parcela do seu dinheiro contra os efeitos da inflação. Para alcançar esse objetivo, é necessário investir essa parte do dinheiro em ativos específicos que possuam rendimentos vinculados à inflação, como Títulos públicos, Crédito privado, Fundos de investimento, Fundos imobiliários e Renda variável.