O Porto do Pecém negocia duas novas rotas de navegação para atender demandas de exportação e importação do Nordeste. Segundo o diretor Comercial do Complexo do Pecém (Cipp), André Magalhães, o novo serviço poderá iniciar já entre outubro e novembro deste ano. Os detalhes da negociação, contudo, ainda serão divulgados.
“Estamos na perspectiva grande de negociar mais duas linhas marítimas. Por enquanto, só podemos falar que estamos correndo atrás, para atender ainda mais ao Nordeste, Pecém e Ceará”, diz. Nessa sexta-feira (25), o terminal marítimo retomou itinerário sazonal para enviar frutas frescas por meio do primeiro navio dedicado para a finalidade, o MSC Sofia Celeste.
O transporte sairá do Pecém para os portos de Roterdã e de Londres, totalizando 98% do volume embarcado. O restante seguirá para outros terminais europeus. A carga inicial foi de 2,5 mil toneladas, incluindo melões, melancias, mangas e uvas produzidas nos estados do Ceará, Rio Grande Norte, Pernambuco e Bahia.
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Com tecnologias, novos investimentos e esse serviço sazonal, a expectativa é de, pelo menos, alta de 10% na movimentação desses produtos no Porto do Pecém. “Em 2022, foram 6, 5 mil contêineres de frutas, o equivalente a 163 mil toneladas. Para esse ano, esperamos 7, 3 mil contêineres, correspondendo a 182 mil toneladas”, calcula.
Projeção conversadora
Magalhães pondera, no entanto, que a projeção de 10% é conservadora, podendo registrar resultados ainda melhores. Nos sete primeiros meses de 2023, o Pecém exportou 25,6 mil toneladas de frutas. “Esse ano é outro cenário, mais otimista, com navios de forma mais regular, disponibilidade de contêineres e o compromisso de armadores (responsáveis pelas embarcações)”, lista.
Conforme Magalhães, o porto adquiriu novos equipamentos para carregar e descarregar os navios e proporcionar mais produtividade. Por isso, afirma, é possível movimentar 90 contêineres por hora. “Melhoramos o atendimento e estamos com uma janela de atracação mais flexível, ou seja, o tempo para chegar ao destino”, completa.
Atualmente, o Pecém possui três serviços marítimos para atender ao mercado de frutas, incluindo esse feito pelo navio Sofia Celeste e outro já iniciado há três semanas para portos norte-americanos. O terceiro inicia em setembro, com exportações para a Europa Mediterrânea.
Temporada das frutas
Setembro é o mês para alavancar o setor agrícola cearense. O período é conhecido como a temporada das exportações das frutas por englobar, entre outras, as safras do melão e da melancia, os líderes de vendas no Estado. A gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Karina Frota, avalia que esse será um ano positivo.
“As frutas cearenses se preparam para ‘aterrissarem’ em outros mercados. Europa e Estados Unidos aparecem com expectativas bem positivas. No ranking dos principais produtos exportados, o setor de frutas aparece bem posicionado”, expõe.
No Ceará, as principais frutas enviadas para fora são: castanha de caju, melões e melancias, enquanto os maiores compradores são: Estados Unidos, Holanda e Reino Unido. Já os municípios cearenses mais exportadores são: Icapuí, Aquiraz e Fortaleza.
Conforme dados do Centro Internacional de Negócio da Fiec, com dados do ComexStat, a castanha foi responsável pelo maior volume exportado de frutas no 1º semestre deste ano, totalizando US$ 35,6 milhões. Todavia, na comparação com igual período de 2022, quando foram vendidos US$ 35, 7 milhões, houve uma leve queda de 0,3% nas comercializações.
Já o segundo colocado no ranking, o melão, teve crescimento de 20,7%, passando dos US$ 19, 9 milhões para os US$16,6 milhões em vendas para o Exterior.
Os 5 itens mais exportados do Ceará:
- Castanha de caju, fresca ou seca, sem casca: 35.659.509 FOB (US$);
- Melões frescos: 19.957.439 FOB (US$);
- Água de coco (Cocos nucifera) com valor Brix não superior a 7,4 18.174.622 FOB (US$);
- Melancias frescas: 9.529.049 FOB (US$);
- Sucos (sumo) de outras frutas, não fermentado, sem adição de açúcar: 4.861.155 FOB (US$);
- Demais Produtos: 14.576.203 FOB (US$);
Total: 102.757.977 FOB (US$).
Impacto para a economia cearense
O economista e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Ricardo Coimbra, observa que o fortalecimento do Porto do Pecém como eixo de infraestrutura logística ajuda a estimular o crescimento do setor agrícola cearense, garantindo a escoação e expandindo a atuação.
“O atual Governo Federal visa ter aproximação com o comércio não só de grandes países, mas também tem buscado novos mercados, como o relacionamento agora com o africano, além do asiático e sul-americano. Na medida em que o Porto do Pecém vai se estruturando, vão se criando bases para ampliar as comercializações”, avalia.
Outro ponto, acrescenta, é que a parceria entre o Porto do Pecém e o de Roterdã facilita o processo de comercialização na Europa. “No cenário de guerra no leste europeu, a fruta cearense pode surgir como alternativa para os mercados europeus, visto que a Ucrânia também é grande produtora de cereais e frutas”, observa.
Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e sócio da Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora de melão do País, lembra do temor acerca dos possíveis impactos da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
“O que preocupava era uma eventual maior participação da Europa, que se envolveria mais. Isso poderia gerar uma insegurança para todo mundo, uma dimensão do consumo, mas acabou não ocorrendo”, pondera, destacando haver melhores expectativas para 2023.
Segundo Barcelos, a demanda nacional “já começou bem” em razão das antecipações de pedidos para abastecer o mercado espanhol, o qual enfrenta problemas na produção devido à seca severa.
Ele observa que novas rotas e mais navios ajudam a baratear o frete. Em 2023, recorda, a diminuição da movimentação pressionou o custo logístico. “Neste ano, já reduziu e voltou para valores quase aos registrados no período pré-pandemia”, calcula. Outro ponto é que o volume de linhas marítimas é importante para garantir viagens mais rápidas para essa mercadoria perecível.
Fonte: Diário do Nordeste