No final dos anos 1950, três amigos decidiram iniciar um negócio próprio na bucólica Jaraguá do Sul (SC). Depois de acertados os detalhes, Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werminghaus fundaram a WEG (WEGE3), em 1961, inclusive utilizando a primeira letra do nome de cada um dos sócios para batizar a companhia.
Passados 62 anos, a empresa de motores elétricos do norte catarinense alcança a segunda posição global ao adquirir da concorrente norte-americana Regal Rexnord (EUA), por US$ 400 milhões, as operações de mesmo nicho, conforme anunciado em 25 de setembro. A empresa, que já era um dos principais players globais, deu um salto com a compra.
Isso porque com o movimento corporativo acessou clientes e indústrias que, em outro contexto, demoraria a entrar, visto que a transação envolveu a Marathon Motors, marca consolidada no mercado dos Estados Unidos e pertencente à Regal. Agora, a catarinense pode reforçar seu cross-selling (venda cruzada, complementares à principal).
Vale lembrar que a companhia tem mais de 40 mil empregados distribuídos nos 15 países onde tem fábricas. A empresa tem presença comercial em 135 países e faturamento líquido de R$ 29,9 bilhões, dos quais 59,3% são proveniente das vendas realizadas fora do Brasil, segundo o site de Relações com Investidores da WEG.
A ação WEGE3 fechou do dia 17 em baixa de 0,75%, cotada a R$ 34,39. O ativo reporta alta superior a 272% nos últimos cinco anos, ainda assim, por mais atrativo que seja o papel, há quem o considere caro e aguarde uma correção no preço.
O Banco do Brasil (BBAS3), por exemplo, divulgou relatório na manhã de ontem recomendando a venda da ação como estratégia de swing trade. O posicionamento do BB se contrapõe aos recentes anúncios por parte da WEG.
Anúncios recentes da WEG
02 de outubro | adquiriu complexo Anemus |
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25 de setembro | adquiriu negócio de motores elétricos nos EUA; |
13 de setembro | anunciou parceria com Petrobras; |
08 de agosto | anunciou parceria com Petrobras; |
25 de agosto | anunciou aporte de 70 mi em Guaramirim (SC); |
28 de julho | adquiriu terreno no México por US$ 40 mi |
WEGE3: cara ou barata?
A Nord tem recomendação neutra para WEGE3 por considerar que o ativo está caro quando comparado a outras empresas que também reportam potencial de crescimento. A afirmação é de Bruce Barbosa, sócio-fundador e analista de ações, que reconhece o bom desempenho da companhia.
“A WEG é a melhor empresa do Brasil no segmento industrial, reportando crescimento médio de 20% ao ano, e sequer depende do mercado interno, visto o volume de exportação anual”, destaca Barbosa, acrescentando que a empresa é altamente geradora de caixa, mas tem andado de lado desde que os juros começaram a subir em 2021.
Faz mais de dois anos, elenca, que as ações não conseguem subir e nem vencer o fluxo negativo da Bolsa brasileira, e isso fez com que ela ficasse até um pouco mais barata, pois negociava, anteriormente, a múltiplos mais altos. “Mas ainda assim está cara”, destaca.
Para os próximos 12 meses, Barbosa acredita que a companhia voltará a subir na esteira da normalização do mercado, que deve ocorrer nesse período e, do lado da inovação, ele ressalta que a empresa faz um produto que está em alta demanda, que é o motor elétrico, e está sempre presente nos grandes mercados mundiais, ou seja, vende para o mundo inteiro.
A recomendação dos analistas
O sócio e analista de bens de capital da Perfin, Marcelo Inoue, não tem uma visão muito otimista assim para a WEGE3 nos próximos 12 meses. Ele explica que a companhia irá começar a pagar um imposto de renda maior por efeito da taxação de preço de transferência.
Segundo ele, para o Brasil se adequar à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), foi determinado que as companhias observassem o transfer price, ou valor cobrado por uma empresa na venda ou transferência de bens, serviços ou propriedade intangível. “Essa mudança tende a aumentar a tributação de quem usa subsidiárias com alíquota de imposto de renda menor, como é o caso da Áustria, país onde a WEG atua”, afirma
O executivo elenca que a WEG também se utiliza da distribuição de rendimentos aos acionistas por meio de juros sobre capital próprio (JCP) que, no Brasil, está em vias de ser modificado pelo Congresso e governo. “Estes dois fatores podem impactar o lucro da companhia entre 10% e 15%”, ressalta.
A Perfin tem recomendação neutra para a WEGE3, e o analista frisa que a empresa está com uma valorização relativamente alta. “A expectativa é que a companhia cresça seu lucro, em 2024, abaixo dos 10%, sendo que sempre performou acima dos 20%”, diz.
Ele ressalta, no entanto, que a WEG está exposta a mercados e tendências muito promissoras, como energia renovável, linhas de transmissão e eletrificação de veículos, e tem um público fiel, dentre os quais muitos estrangeiros. “Tem, ainda, muita pessoa física em sua base de acionistas.”
Queridinhas
Para Gabriel Rezende, analista do Itaú BBA, a A WEG permanece como uma das queridinhas dos investidores, um status obtido com um excelente track record (histórico de desempenho) ao longo dos últimos anos, que combina: aceleração de crescimento, avanço da rentabilidade e exposição a temas que vêm ganhando notoriedade (eletrificação, energias renováveis, etc.).
Por conta disto, o banco de investimentos tem um rating de market perform (performance em linha com o mercado) com preço alvo em R$ 46 para a ação. “Os investidores costumam buscar papéis com perspectivas de boa performance no curto prazo, o que tem deixado a jaraguaense fora da lista de opções dos analistas”, diz.
Ele acrescenta que a empresa atingiu um patamar de rentabilidade que deve arrefecer nos próximos trimestres e o crescimento visto ao longo dos últimos anos está se acomodando em um patamar mais baixo. “Esses são os principais fatores deixando o mercado um pouco menos animado com a ação”, afirma.
Fonte: E-Investidor