Depois do que foi batizada de “Black Monday”, a Bolsa e o dólar devem ter um dia mais brando nesta terça-feira (6), com instabilidades. Por volta do meio-dia, o Ibovespa tinha alta de 0,10% chegando a 125.399,77 pontos. O dólar, na mesma hora, tinha queda de 0,29%, indo a R$ 5,667. Já o dólar turismo ia a R$ 5,887 (venda).
O que está acontecendo?
Esta terça-feira deve ser de correção no mercado, principalmente depois da divulgação da ata do Copom. “Os mercados aqui e em outros países estão bem mais calmos”, diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.
Na segunda-feira, Bolsas em vários países tiveram perdas. Especialistas do mercado temem que a taxa de juros dos Estados Unidos tenha sido mantida em altos patamares por muito tempo e que a maior economia do mundo possa sofrer uma recessão.
Além disso, as recentes medidas do Banco Central do Japão (BoJ) afetaram vários mercados. O BoJ forçou a valorização do iene e aumentou os juros. Como o país oriental tinha a menor taxa do mundo, muitos investidores faziam uma operação chamada “carry trade”: captavam dinheiro lá e em seguida, aplicam aqui, no Brasil, que tem o segundo maior juro do planeta, e nos Estados Unidos. Com as mudanças, esse dinheiro começou a sair rapidamente desses países, causando — aqui — a desvalorização do real.
Mas os riscos ficaram para trás?
Não, os efeitos do “carry trade” continuam pesando. Mas o PMI, que mede a temperatura do setor de serviços nos Estados Unidos, ajudou a acalmar o mercado. O índice subiu de 48,8 em junho para 51,4 em julho. Analistas previam um aumento menor, a 51. “Por isso a Bolsa brasileira e o dólar aqui tiveram um alívio”, afirma Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
Mercado ainda deve ter muito sobe e desce. Para Ana Paula Gobbo, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital, a volatilidade deve persistir. “O investidor deve estar preparado para um mercado com alta volatilidade para os próximos 30 dias”, disse ela.
Como a ata do Copom influencia a Bolsa?
O Copom defendeu que a decisão de manter a Selic em 10,5% ao ano é compatível com a estratégia de fazer com que a inflação caminhe para perto da meta. O documento divulgado nesta terça-feira (6) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central diz que a política monetária se manterá contracionista. E isso deve acontecer “por tempo suficiente em patamar que, não só consolide o processo desinflacionário, como também a ancoragem das expectativas”.
A Selic pode até aumentar, se o Comitê julgar adequado. “A ata da reunião do Copom de julho trouxe uma mensagem dura, indicando que o Banco Central está disposto a elevar a taxa de juros caso seja necessário”, diz Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.
Para o mercado, essa decisão é certa, apesar dos juros não colaborarem com a Bolsa. Juros maiores afastam os investidores do mercado de ações. Mas o mercado julga que inflação descontrolada é pior.
O dólar pode até cair. É o que diz um relatório do Itaú sobre a ata do Copom. “Como acreditamos que o real se fortalecerá nas próximas semanas, à medida que os mercados globais se acalmarem, mantemos, por enquanto, a previsão de que a Selic permanecerá em 10,50% ao ano. Se o câmbio não reagir, um ciclo de alta, começando em setembro, será inevitável”, diz o documento.
Por que não se teme que os juros possam causar recessão aqui?
Mesmo com juros em dois dígitos desde fevereiro de 2022, a economia brasileira está acelerando. “São momentos diferentes, o brasileiro e o americano. A gente já começou um ciclo de cortes, em setembro do ano passado e houve uma pausa agora por conta do aumento do risco fiscal”, diz Breno Bonani, analista da Alphamar Invest, de Vitória.
Aqui a economia real está crescendo. A atividade da indústria, por exemplo, cresceu 4,1% de maio para junho após dois meses seguidos de queda. O dado, divulgado na última sexta-feira (2), deve impulsionar o PIB trimestral.