Desde o dia 06 de abril, o país e parte do mundo vem assistindo atentamente a um embate que promete superar até mesmo a luta de Popó x Bambam: Musk x Moraes. O megaempresário sulafricano radicado nos Estados Unidos respondeu a uma postagem de Alexandre de Moraes, Ministro do Supremo Tribunal Federal, o motivo para haver tanta censura no país. Bastou poucos minutos para o assunto passar a ser o mais comentado do país na rede social de Musk, o X, antigo Twitter, e gerou debates em todos os espaços de conversa do Brasil, com habitual divisão de apoiadores por questões técnicas, políticas e até mesmo sem motivo algum. O debate tem um epicentro: os limites da liberdade de expressão.
De um lado, Musk e uma parcela significativa da população entendem arbitrárias as decisões de Moraes e outros ministros e as classificam de censura, enquanto outra parcela entende assertiva as decisões da corte. Farpas foram trocadas e ações têm sido tomadas, desde a inclusão de Elon Musk no inquérito nº 4.874 (Inquérito das Milícias Digitais) por Alexandre de Moraes, até remoção de restrições de perfis na Rede Social X determinadas pelo Ministro. Para nós, da coluna, uma medida – ou ameaça – chamou atenção: Elon Musk anunciou que poderia fechar o X (antigo Twitter) no Brasil se as decisões classificadas por ele como autoritárias continuassem. Sem contar o debate constitucional acerca da legalidade das decisões e o direito à liberdade de expressão, a saída de uma empresa desse porte do país traria prejuízos multimilionários.
Vamos aos números. A X Brasil Internet Ltda. (X – antigo Twitter) está no Brasil desde o ano de 2002, possui um capital social declarado de mais de R$500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais), emprega diretamente aproximadamente 150 pessoas, com relações contratuais com dezenas de fornecedores, canal de anúncio para milhões de empresas no Brasil e a cereja do bolo: mais de 22 milhões de usuários ativos no país em janeiro/2024 (desses, 9 milhões acessam mensalmente a plataforma). São números superlativos que nem de longe são capazes de demonstrar o ecossistema que seria afetado em eventual saída da rede social do país. A perda dos empregos, o fim das relações com fornecedores e a possível perda dos usuários é apenas a ponta do iceberg: centenas de empresas vivem do X/Twitter.
Dentre os usuários, estão milhões de empresas que utilizam a plataforma para se comunicar com seus clientes e estabelecer relações diretas – a rede se popularizou como um dos principais canais explorados pelos setores de marketing de empresas para lidar diretamente com os clientes. Atendimento ao cliente e vendas seriam sensivelmente impactados. Este impacto geraria perda de receita e obviamente menor circulação de valores, com repercussão até no mercado de capitais: empresas listadas em bolsa poderiam refletir no mercado as perdas geradas pela saída da plataforma do país.
Curiosamente, um dos setores mais sensíveis seria justamente o de imprensa: o X/Twitter é parte fundamental das estratégias de comunicação das empresas de mídia, pelo potencial de transmitir notícias rápidas e que possibilitam grande interação. Contratos em andamento seriam obrigatoriamente rescindidos ou, pelo menos, reestruturados, importando em prejuízos milionários, afinal, o X/Twitter também funciona como cliente em diversas relações comerciais.
A própria empresa seria impactada, já que os usuários brasileiros representam o sexto maior mercado do X/Twitter no mundo, com uma fatia que corresponde a aproximadamente número 7% de todos os usuários da rede social no mundo. O faturamento e o lucro da empresa no Brasil não são públicos, portanto, não é possível saber o impacto dessa perda no seu faturamento global. Ainda há os impactos que não tem preço, como a imagem e reputação do país junto ao investidor estrangeiro e o ganho ou a perda de credibilidade dentro e fora do país, deixando claro que pior que o fechamento de uma empresa deste porte, só o seu fechamento repentino.
Isto porque o fechamento repentino significará quebra de contratos que pesarão sobre o X/Twitter os ônus rescisórios. Contratos estão em vigência e, a não ser pela decisão de seu líder ou uma determinação legal, continuarão em vigor. Se realmente sair do Brasil, a rede social até poderá seguir operando no país sem uma sede física e nomeando apenas um representante legal, se distanciando dos braços da justiça por um preço que pode sair caro. No jogo de ameaças e ações, todos podem sair perdendo se a ameaça maior se concretizar. A empresa perde sua posição privilegiada num mercado cobiçado pelo mundo inteiro (o brasileiro passa em média 09h/dia na internet). Alexandre de Moraes traz ainda mais pra si a imagem de autoritário perante alguns setores da sociedade. O Supremo Tribunal Federal, que fatalmente avalizará a decisão de seu ministro, ganhará ainda mais fama de intervir em assuntos fora de sua alçada. Perderá o Brasil, por uma guerra que, na verdade, nem deveria existir!