Os títulos públicos atrelados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) voltaram a pagar juros atrativos, diante de um horizonte econômico desafiador de longo prazo. Na semana passada, quando a Bolsa de Valores brasileira chegou abaixo dos 115 mil pontos, asNTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional Série B) passaram a dar retornos de inflação + 6%.
Nesta semana, houve um respiro, mas os títulos mais longos atrelados à inflação estão muito próximos deste patamar de juros reais, depois de algumas semanas pagando abaixo dos 5%.
Com as taxas americanas drenando o dólar da economia mundial, o câmbio começa a pressionar a inflação em economias emergentes, como a brasileira, o que aumenta a sensação de aversão ao risco. O resultado é uma curva de juros longos se abrindo e a renda fixa voltando a patamares de poucos meses atrás.
“Quem está olhando no longo prazo pode comprar de olho fechado porque é difícil ter alguma estratégia que pague 6% acima da inflação acumulada”, diz Laís Costa, analista da Empiricus Research.
Costa acredita que a exposição a este nível de juros reais – balizadores da dívida pública – é positiva porque, em algum momento, o governo terá de puxar esse percentual para baixo. “Um país que cresce a 2% ao ano não consegue manter esse impacto de 6% por muito tempo nas suas contas.”
O risco da marcação a mercado
Esse ajuste, defende Fernando Correa, estrategista da Nomos, embute o risco de curto prazo para os papéis mais longos que é a marcação a mercado. “É desfavorável, mas o carrego, para o investidor de maior prazo, certamente ajuda e compensa”, diz.
Jonas Chen, gestor de portfólio da B. Side Wealth Management, defende que os melhores títulos têm vencimentos de até cinco anos para juros nominais (prefixados) e no máximo de 10 anos para títulos de juros reais (IPCA +).
“Para o investidor comum, os juros de curto e médio prazo oferecem uma segurança e previsibilidade melhor que a parcela longa devido à dinâmica do afrouxamento dos juros, possibilitada pela inflação mais benigna em 2023”, diz o gestor, ao falar sobre a perspectiva de menor pressão inflacionária no Brasil.
O Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (25) de setembro, continua mostrando que os agentes financeiros esperam uma inflação convergindo para a meta, fechando em 3,5% ao final de 2025.
Dívida privada
Uma opção para quem busca uma rentabilidade maior é o crédito privado. Esta linha de produtos de renda fixa exigem, no entanto, mais diligência do investidor em relação ao risco.
Neste sentido, os fundos de debêntures incentivadas listados em bolsa podem trazer algumas vantagens para a pessoa física. Por serem listados, são produtos que tem liquidez parecida com ações, em D+1, e por terem gestão ativa em diversificação, reduzem o risco de crédito.
“Dentro de um fundo como este há debêntures de dezenas de empresa. Se uma der calote, o investidor não terá estresse de fazer negociação para reaver seu crédito. Com a gestão profissional, o investidor pode ter uma remuneração melhor do que a de títulos do governo”, afirma Costa, citando opções como KDIF11 da Kinea, JURO11 da Sparta e IFRA11 do Itaú, fundos que pagam 1,5 a 2% acima da NTN-B. “É bastante gordura para ter esses benefícios.”
Alocação estrutural
Para os especialistas, o investimento em renda fixa de longo prazo deve ser encarada com o uma alocação estrutural do investidor brasileiro e não apenas uma estratégia conjuntural. Para uma pessoa de perfil moderado, manter de 5% até 15% de fundos de debêntures incentivadas pode garantir uma boa proteção contra a volatilidade da economia brasileira no longo prazo.
Na carteira de renda fixa deste investidor, metade deveria ter proteção à inflação, com títulos indexados ao IPCA, e o restante distribuídos em pré-fixados, pós-fixados, já que a Selic ainda se mantém em patamares elevados e, em menor posição, as debêntures. “No final do dia a pessoa tem que mirar seus rendimentos acima do IPCA e, para isso, é preciso ter títulos atrelados à inflação e isentos de IR”, destaca a analista da Empiricus.
Nos 30% restantes da carteira, 2/3 podem estar vinculados a fundos multimercado e nos 10% dedicados à renda variável, o cenário desafiador estimula uma exposição menor a empresas ligadas a setores cíclicos como o varejo e entrada nos segmentos chamados mais defensivos, como empresas de serviços públicos, como saneamento, energia e telecom.
Produtos isentos de IR
“Eu prefiro aproveitar a isenção”, diz Paulo Minari, head de Investment Strategy da Oriz Partners, referindo-se às debêntures incentivadas. “Empresas do setor elétrico, saneamento, concessão rodoviária estão pagando IPCA +7%”, diz Minari. “O spread de crédito está acima da média histórica. Americanas e Light reprecificaram este mercado.”
O especialista também cita opções ligadas a Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) que também voltaram a pagar taxas maiores em relação há poucas semanas e têm a vantagem de serem isentas de IR.
A questão nesta estratégia é entrar em papéis que estejam mais descontados, o que, neste cenário, se torna uma tarefa mais difícil. Enquanto o índice que representa a variação das empresas ligadas ao consumo na B3 se mantém estável em relação ao início do ano (ICON), o IEE, relativo às empresas do setor elétrico, por exemplo, já valorizou cerca de 12% desde janeiro. O mesmo vale para exposição em debêntures, já que as empresas defensivas têm receitas mais previsíveis.
Respeite o seu perfil
Mudar o peso dos ativos na carteira, no entanto, costuma ser um movimento que leva a prejuízos. Em vez de rotacionar a carteira, o investidor deve procurar fazer movimentos táticos, respeitando a alocação de ativos de acordo com o seu perfil de risco. “Investir numa gestora, num profissional, também é uma boa forma de atravessar momentos de maior desafio”, explica Costa.
Para quem tem uma capacidade melhor de aportes, Fernando Correa, da Nomos, defende ainda que o investidor procure internacionalizar parte de suas reservas para moedas de países como Estados Unidos e União Europeia. “Está mais fácil acessar o mercado internacional e as novas altas taxas de juros americanas ajudam bastante no quesito atratividade”, diz. É válido salientar que os aportes mínimos em títulos do tesouro americano começam na faixa dos US$ 5 mil, algo em torno de R$ 25 mil.
Fonte: E-Investidor