A crescente valorização do dólar, cotado a R$ 6,14 nesta última quinta-feira (19), tem gerado uma série de desafios econômicos para o Brasil. O aumento do valor da moeda norte-americana impulsiona a inflação, eleva os custos de importação e agrava as dificuldades fiscais, afetando diretamente o poder de compra da população e a estabilidade econômica do país.
Quando o dólar sobe, os preços de produtos importados também aumentam, gerando pressão inflacionária. Esse impacto é ainda mais preocupante em um cenário no qual a inflação já está alta. Segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) de 2023, a desvalorização do real amplifica a volatilidade econômica e pressiona o custo de vida dos brasileiros.
Dados da XP Investimentos indicam que, para cada 5% de desvalorização do real, o impacto na inflação pode atingir até 20 pontos-base. Os efeitos são sentidos principalmente em itens como alimentos, combustíveis e componentes industriais. Em um contexto de inflação elevada, a valorização do dólar apenas agrava a situação.
O Banco Central, por meio de seu relatório de dezembro, admitiu que a meta de inflação para 2024 será descumprida, estimando um IPCA de 4,9%, acima do teto de 4,5% estabelecido pelo sistema de metas. Uma das razões, segundo a instituição, é o dólar valorizado, que eleva os preços de commodities como soja, trigo e petróleo, além de encarecer produtos industrializados e eletrônicos importados.
Os setores mais afetados pela alta do dólar são aqueles que dependem de insumos de fora. A indústria automobilística, por exemplo, sofre com o aumento nos custos de peças e componentes. O setor de alimentos também vê seus custos de produção elevados, com impactos diretos no preço de itens básicos como pão. Esses aumentos são refletidos no bolso do consumidor.
Produtos eletrônicos, como celulares e notebooks, tornam-se mais caros, enquanto alimentos e combustíveis sofrem reajustes constantes. Serviços como turismo e educação no exterior também são diretamente impactados, tornando viagens internacionais e cursos fora do Brasil mais inacessíveis.
O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) aponta que os efeitos da crise climática, como a seca no Amazonas e as enchentes no Rio Grande do Sul, aumentam a pressão sobre os preços, principalmente de alimentos e energia. Quando combinados com a alta do dólar, esses fatores criam um cenário econômico ainda mais desafiador para o consumidor.
Embora a valorização do dólar beneficie exportadores, ao tornar seus produtos mais competitivos no mercado internacional, os efeitos positivos são limitados a setores específicos, como o agronegócio. O lucro ampliado nas exportações de soja, milho e carne, por exemplo, não é suficiente para contrabalançar o impacto negativo da inflação e do encarecimento das importações.
Além disso, a alta do dólar também gera desconfiança no mercado financeiro. A volatilidade cambial eleva os custos das dívidas em dólar, tanto no setor público quanto no privado, comprometendo os investimentos e dificultando o planejamento empresarial. Esse cenário cria um ambiente de incerteza, que dificulta o crescimento sustentável da economia brasileira.