Uma das áreas mais críticas em qualquer negócio hoje, a cibersegurança segue atraindo investimentos. Especialista em diagnóstico e planejamento de defesa digital, a mineira Pacific Sec acaba de captar cerca de R$ 10 milhões com um parceiro estratégico. Os sócios do Mercado Bitcoin (MB), por meio de um fundo da Gear Ventures, estão apostando na empresa depois de terem sido escrutinados pela própria.
“A Pacific foi contratada para fazer a auditoria de cibersegurança do MB, a pedido dos investidores, no contexto da nossa série A”, conta Gustavo Chamatti, fundador do MB e sócio da Gear. “Nós sempre tivemos a convicção de que isso era crucial para um negócio que depende essencialmente de credibilidade e reputação, então montamos a melhor equipe do país, interna mesmo, e nunca tentamos terceirizar esse serviço. Mas o trabalho deles nos impressionou.”
Sob demanda do cliente, a Pacific monta uma estratégia de defesa brada num diagnóstico. Primeiro, os especialistas invadem os sistemas à procura de falhas. Identificadas as vulnerabilidades, a empresa determina um plano de proteção, priorizando as áreas mais críticas a depender do negócio, e indica a compra de produtos disponíveis no mercado, a nível global.
“Uma boa forma de explicar o que a gente faz é imaginar que alguém me contrata para arrombar uma casa e meu trabalho é dizer por onde entrei, qual porta foi mais fácil de arrombar e que tipo de câmera e fechadura esse cliente precisa comprar para ficar seguro”, explica, numa metáfora, o fundador e CEO da Pacific Sec Antônio Arruda, ex-IBM e AT&T.
O serviço até hoje vinha sendo realizado pelas gigantes de consultoria, como McKinsey e PwC. Diferentemente delas, no entanto, a brasileira não vende os produtos de defesa digital, eliminando um possível conflito de interesses. “Nosso mercado interno de cyber foi muito pavimentado por grandes players internacionais e o Brasil passou a ser um consumidor passivo de tecnologias externas, sem focar em desenvolvimento. Por isso temos esse cenário hoje”, diz Arruda.
O negócio chamou a atenção de grandes companhias listadas, incluindo gigantes da mineração, mercado financeiro e saúde, que, por questões de segurança, não permitem a divulgação dos nomes. A empresa atende também alguns dos maiores fundos de VC globais. Entre as clientes que concordaram em compartilhar sua experiência, estão Avenue, Sinqia e Localiza.
“Eu já estive em conselhos de grandes empresas em que o executivo acreditava que estava protegido só por estar investindo uma quantia absurda em cibersegurança. Mas a questão é que isso não garante nada”, relata o sócio da Gear. “Isso é tão verdade que a maioria dos nossos clientes acaba fazendo downside de investimento em ferramentas”, emenda o CEO da Pacific.
Um caso emblemático que comprova a tese é o da Equifax, que sofreu um dos maiores vazamentos de dados da história e sofreu um prejuízo superior a US$ 2 bilhões. A catástrofe poderia ter sido evitada se a equipe responsável tivesse lembrado de atualizar um dos softwares.
Agora capitalizada, a Pacific planeja entrar no mercado de B2C, protegendo também consumidores finais. Também por isso, o investidor foi escolhido a dedo — a empresa rejeitou propostas de grandes fundos de VC. Um dos principais motivos foi o know-how do MB em alcançar a pessoa física com um produto extremamente tecnológico e ainda não tão bem conhecido pelo usuário comum: nesse sentido, tanto o universo cripto quando as soluções de cybersecurity.
A ideia é lançar uma plataforma modelo freemium em que o consumidor possa consultar se a empresa de onde está comprando mantém seus dados seguros e protegendo suas transações, no caso das financeiras. Vai funcionar quase que como um Reclame Aqui (outra cliente da Pacific), mas voltado à LGPD e cibersegurança.
Os R$ 10 milhões aportados exclusivamente pela Gear estão num cheque fora da curva. A gestora geralmente mantém os aportes entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões em empresas no early stage. Com um fundo aberto que realiza chamadas de capital dos sócios, a firma já fez cerca de 12 investimentos e atualmente conta com 8 startups no portfólio. Entre os exits de maior relevância, vendeu sua parte na BitCapital para a AME, da B2W e Americanas, e uma fatia da Concash para o BTG neste ano.
Fonte: Pipeline